Alan Cardoso, o lateral do Vasco que driblou a violência à la Marcelo

Alan tinha 14 anos quando voltava de um treino do Vasco e viu uma comoção na rua onde morava, em Guadalupe, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Logo soube da notícia: seu melhor amigo, Carlos Alberto, o Nem, havia morrido, vítima de uma bala perdida que atravessou o caderno que trazia após retornar da escola. Naquele momento, o jovem lateral-esquerdo decidiu: assim que pudesse, sairia dali.

Quatro anos depois, Alan alcançou o objetivo. Promovido ao time principal do Vasco, tratado como uma das principais promessas do clube, mudou-se para São Cristóvão. Mora a cinco minutos de São Januário, trajeto que faz a pé.

As mudanças para Alan ocorrem de várias maneiras. Agora, ele faz parte da equipe profissional, e a torcida já cobra sua presença entre os titulares. Simpático, o menino esconde no sorriso as lições de vida que o fazem se sentir preparado para deslanchar em 2017 e honrar a memória do amigo Nem:

– Isso me marcou muito. Fiquei bastante triste. Ele estava sempre lá em casa, sempre comigo. Até hoje quando alguém fala dele sempre lembro das coisas boas. Quando vou fazer minha oração antes do jogo, sempre lembro dele, falo que as coisas que eu alcançar vão ser por ele.

Ainda em Guadalupe, Alan frequentou dos seis aos oito anos o projeto “Bola pra frente”, criado por Jorginho, seu ex-técnico no Vasco. Ele considera que ali começou a mudar sua história: em vez de se perder nas ruas, se concentrou no futebol. O Cruz-Maltino terminou de salvá-lo.

– Eu não saía mais de casa. De casa para o treino, do treino para casa. Ficava só em casa, sendo que é um local muito perigoso. Chegava lá e estava dando tiro. As vezes não ia para casa, ficava aqui no Vasco. E o jeito foi se mudar, senão a tendência era só piorar.

Inspiração em Marcelo

Alan chegou ao Vasco com 10 anos. Estudou no colégio do clube, onde travou amizade com Mateus Pet e Andrey. Garante, sem convencer muito, que não era tão bagunceiro. Mas ele se destacou mesmo foi pelo que demonstrava em campo. Em 2016, participou de 10 jogos na equipe principal, três deles como titular.

Alan faz parte da famosa Geração 98, tratada como extremamente promissora em São Januário. Teve passagens pela seleção sub-17 e, na reta final deste ano, começou a ter chances na equipe principal. Vascaíno, forjou seu estilo baseado em duas referências: Felipe e Marcelo. Pudera: veio do futsal, mesma escola do ídolo cruz-maltino.

– O Felipe eu acompanhei de perto por causa do Vasco, porque sou vascaíno. Meu pai falava para eu me espelhar nele, pelos cortes dele, chute e pela qualidade que o Felipe tinha. Marcelo tem qualidade tremenda. Antes do jogo acabo vendo vídeos dele para tentar fazer algo igual ao Marcelo – contou.

Sonho de jogar no Bayern

O ritual antes dos jogos, além de assistir a Marcelo, inclui ouvir músicas religiosas para relaxar – no lazer, Alan gosta é de funk e Chris Brown. Se tudo der certo, ele espera se firmar entre os profissionais em 2017. E, aí, vem o sonho europeu. Nada de Barcelona ou Real Madrid. O jovem quer jogar no Bayern de Munique.

– Sempre falei para o meu pai que meu sonho é jogar no Bayern de Munique. Mas falta muito. Tenho muita grama para comer ainda. Meu objetivo maior é fazer história aqui no Vasco. Gosto do Bayern pelos jogadores, gosto muito do Robben, do Alaba, e acho que a torcida de lá faz a diferença. O estádio… Queria poder falar alemão. Gosto muito do alemão, do francês. Diferente do inglês. Queria uma coisa diferente. Posso pegar frio ou calor, mas um sonho é um sonho.

E o sonho não é só de Alan. É dos pais, Aloisio e Maria Ariene. E do velho amigo Nem. Alan tem motivos para pensar grande.

Fonte: GloboEsporte.com

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