Depois de sair do treino encerrado às pressas, Edmilson chegou em casa a tempo de encontrar os pais em total desespero, chorando e rezando debaixo da mesa, como manda o protocolo. Ele próprio tentava acalmar a família, mas estava cada vez mais assustado, porque aquilo não passava. A tragédia que abateu o país não chegou à sua casa, felizmente, e o episódio não passou de um susto numa das fases mais felizes de sua vida. Era 11 de março de 2011, dia do terremoto de 8,9 graus, considerado o sétimo mais forte da história, e que causou um tsunami, a morte de centenas e levou destruição ao Japão. O atacante do Urawa Red tinha recebido, dias antes, a visita dos pais em Saitama, onde vivia e era ídolo.
É a feliz passagem de oito anos no Japão, onde mudou seu jeito de ver o mundo, quebrou recordes, foi idolatrado e até mudou sua posição em campo que Edmilson espera repetir, ao menos em parte, no Vasco. Ele sabe que, no caminho de conquistar a torcida, fazer gol contra os rivais é parada obrigatória, e o clássico deste domingo, contra o Flamengo, o primeiro no Maracanã em quase quatro anos, é ótima chance.
— O dia do terremoto não dá para esquecer. Estávamos no treino, os refletores começaram a balançar, e todo mundo deitou no gramado. Eu estava acostumado, já tinha muito tempo de Japão. Mas aquele foi o mais forte. É impressionante como eles reconstruíram tudo em três meses. Fui feliz lá, como quero ser no Vasco — diz o atacante de 31 anos.
A relação com o Vasco, porém, vem de bem antes de sua contratação, em abril do ano passado. Nascido e criado em Salvador, filho único de uma cozinheira e um policial militar, Edmilson não lembra a data exata, mas sabe dizer até hoje quando virou vascaíno. Era 8 de julho de 1992 e, pela TV, o garoto, com 9 anos, fez a sua escolha.
— Foi numa vitória de 3 a 0 sobre o São Paulo, gols de Bismarck, Bebeto e Edmundo. Nunca esqueço. Tive uma infância boa, meus pais nunca deixaram faltar nada. Eu detestava que meu pai fosse PM, aquela coisa de sair para o plantão que ia durar a noite toda e você não saber se ele voltaria — lembra Edmilson. — Depois desse jogo, meu pai não queria deixar eu ser vascaíno. Ele torce para o Bahia, e não aceitava eu torcer para um time do Rio. Depois, sempre que jogavam Vasco e Bahia, eu comemorava os gols do Vasco escondido, e ele ficava de olho.
Descoberto num campeonato infantil em Salvador, Edmilson passou pela base do Vitória e, aos 14 anos, foi levado por um empresário para Araras, no interior paulista. De lá, foi para o Palmeiras, e ganhou destaque ao formar boa dupla de ataque com Vágner Love na Série B de 2003. Transferiu-se para o Japão com 21 anos, e no início estranhou o frio de temperatura negativa em Niigata. Não demorou para se habituar e gostar do país e de seu povo.
Depois de quatro anos com sucesso no Albirex Niigata, foi vendido ao Urawa Red. Edmilson é um caso raro de jogador que, já atravessada metade da carreira, mudou de posição.
— Eu já tinha 26, e fui levado para substituir o Washington, o Coração Valente, no Urawa. O técnico queria que eu fizesse tudo igual ao Washington, ficasse dentro da área. Eu era atacante de lado no Palmeiras, joguei até de meia, virei centroavante e deu certo — conta Edmilson, orgulhoso do que alcançou no futebol japonês. — Fui o jogador que chegou mais rápido aos 100 gols na J League. Fiz meu centésimo gol justamente no 200º jogo. Média de um a cada dois jogos.
No Vasco, por enquanto, ele tem 13 gols em 35 jogos. Mas ambição não falta.
— Sou feliz aqui. Trabalho com o Carlos Germano, que eu adorava ver. Joguei junto com Juninho, Felipe… Também quero fazer história no Vasco.
Fonte: Globo Online