Maior goleada do Clássico dos Milhões, Vasco 7 x 0 Flamengo, completa 86 anos

Nesta 4ª-feira (26/04) a maior goleada da história do clássico Vasco x Flamengo completa 86 anos. Na ocasião, o time cruzmaltino venceu o arquirrival por 7 a 0 em jogo realizado no Estádio de São Januário, válido pelo 1º turno do Campeonato Carioca de 1931. Os gols foram marcados por Russinho (4), Mário Mattos (2) e Sant’Anna.

As derrotas do Flamengo para o Vasco estavam se tornando constantes, a ponto da imprensa carioca tradicionalmente rubro-negra tentar ignorar aquele massacre nos jornais do dia seguinte. No período de 1928 a 31, o time cruzmaltino venceu todos os 8 jogos oficiais contra os flamenguistas.

Este foi um dos primeiros grandes times da história do Vasco. Quatro atletas (Brilhante, Itália, Fausto e Russinho) foram convocados para a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1930 no Uruguai, além de Tinoco para a edição de 1934 na Itália. O meio-campo Fausto chegou a receber o apelido de “La Maravilla Negra” pela imprensa uruguaia por causa das suas grandes atuações em campo.

O ponta-esquerda Sant’Anna foi o primeiro jogador a fazer um gol olímpico no país. Isto aconteceu em 1928, na inauguração dos refletores de São Januário, quando o Vasco venceu o Wanderers do Uruguai por 1×0.

Se na esquerda tinha Sant´Anna, pela direita vinha Paschoal, apelidado de “Trem de Luxo” pela sua extrema velocidade. Ele atravessou todo o período que o Vasco venceu o racismo no futebol carioca, conquistando os primeiros títulos do clube, desde a Série B da 1ª divisão do Carioca em 1922. Foi titular absoluto do Vasco e das seleções carioca e brasileira, apesar de não ter participado daquela goleada de 7×0 sobre o Flamengo.

Paschoal pertencia, com orgulho, a uma geração que amava o clube. Pelo resto de sua vida, trabalhou com o mesmo amor pelas sagradas cores do Vasco, razão maior da sua vida. Com mais de 80 anos, continuava integrado ao Vasco, ensinando garotos que sonhavam um dia representar a cruz-de-malta tal como ele.

Não se pode esquecer também de Sebastião Paiva Gomes, o Mola, Campeão Carioca em 1929 e 1934. Ele era o cão de guarda do time e os atacantes da época tinham pavor de enfrentá-lo. Em 1934, Mola foi convocado para a Seleção que disputaria a Copa do Mundo, mas, ao contrário dos seus companheiros vascaínos Tinoco e Leônidas da Silva, preferiu continuar como profissional no Vasco, uma vez que a CBD só levaria “amadores” para a Itália.

Outro ídolo da lendária equipe foi Russinho, autor de quatro gols na goleada histórica sobre o Flamengo. Ele também se sagrou artilheiro dos Cariocas de 1929 e 1931. Em 1930 Russinho atingiu grande popularidade e foi eleito o melhor jogador do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, num concurso promovido por uma marca de cigarros.

Para comandar este leque de craques, o Vasco tinha Harry Welfare como técnico. Vindo do Liverpool, o gringo do país que inventou o futebol chegou ao Brasil em 1912 contratado pelo Colégio Anglo-Brasileiro para ensinar a língua inglesa. Como jogava muito bem futebol, ingressou no Fluminense e fez história nos campos cariocas. Foi o técnico vascaíno de 1927 a 37, voltando ao cargo na temporada de 1940.

Recitando a escalação do Vasco

A base dessa vitoriosa equipe vascaína de 1931 ainda era a mesma campeã carioca em 1929. O timaço se consagrou ao bater o América por 5×0 na final, após dois empates na série melhor-de-três. No ano seguinte (1930) a grande vítima foi o Fluminense, que também sofreu a maior goleada da história do clássico: 6×0 em São Januário.

Porém, o que realmente mais impressionava no Vasco de 1929 era a criatividade dos torcedores em recitar a escalação de seus ídolos. Frases como estas eram postas com orgulho nos botequins do Rio de Janeiro:

JAGUARÉ foi na ITÁLIA comprar BRILHANTE. Assistiu com TINOCO a ópera FAUSTO, sentado numa cadeira de MOLA. Na volta, PASCHOAL encontrou OITENTA E QUATRO RUSSINHOS junto com MÁRIO MATOS na Igreja de SANTANA”.

Ou:

JAGUARÉ fez uma BRILHANTE defesa na ITÁLIA. TINOCO foi visitar FAUSTO numa cadeira de MOLA, PASCHOAL comeu OITENTA E QUATRO empadas com RUSSINHO e MARIO MATTOS no campo de SANTANA”.

Quem comprova isso é o sócio Fabrício Figueira, de 26 anos, sobrinho-neto do zagueiro Itália, que faleceu em 1963. Freqüentemente o jovem vascaíno ouve histórias dos mais antigos parentes do craque:

“Minha mãe sempre conta que o Itália dava doces, balas e uns trocados para os sobrinhos que decorassem a escalação do time. Era uma forma de aumentar mais ainda a identidade deles com o Vasco”, comenta Fabrício, que ainda guarda fotos do antigo xerife do Vasco.

Ficha Técnica – Vasco 7×0 Flamengo

Campeonato Carioca de 1931 (1º Turno)
Local: São Januário
Juiz: Leandro Carnaval
Expulsões: Fausto e Penha aos 37 minutos do 1º tempo
Obs: Naquela época os jogadores expulsos eram substituídos.

Vasco: Jaguaré, Brilhante e Itália; Tinoco, Fausto (Nesi) e Mola; Baiano, Oitenta e Quatro, Russinho, Mário Mattos e Sant´Anna

Flamengo: Floriano, Léo e Hélcio; Flávio, Penha (Fonseca) e Darci; Adelino, Viventino, Elói (Nélson), Álvaro e Cássio

Gols:
No 1º tempo: Russinho aos 5 e 30, Mário Mattos aos 27 e 34 minutos;
No 2º tempo: Santana aos 4 e Russinho aos 14 e 20 minutos.

Fonte: Site Oficial do Vasco, Site Mauro Prais, NETVASCO, Revista Placar, Livro “Flamengo x Vasco – O Clássico dos Milhões”, Blog Memória Vascaína

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