De bem com a vida e com as redes, Edmílson é um dos principais destaques do Vasco no Campeonato Carioca. Com quatro gols, o atacante divide a artilharia da competição ao lado de nomes como Hernane e Alecsandro, do rival Flamengo, adversário na tarde deste domingo no Maracanã. Mais além de conquistar o posto de goleador máximo do torneio, o camisa 7 de São Januário sonha com voos mais altos em 2014. Vivendo o que considera ser seu melhor momento no futebol nacional, ele espera ajudar a resgatar o orgulho do torcedor vascaíno depois do rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Edmílson sabe que não será fácil. É preciso dar um passo de cada vez. Como ele mesmo diz, o respeito se ganha jogo a jogo. O começo de ano tem sido animador. Única equipe ainda invicta no estadual (quatro vitórias e três empates), o Vasco ocupa a quarta posição com 15 pontos. Neste domingo, pode até assumir a vice-liderança. Só que ao mesmo tempo a pressão pelo fim do jejum de títulos no Carioca é grande em São Januário. A última taça foi conquistada em 2003.
– Nenhum clube grande pode ficar dez anos sem ganhar um estadual. Nem mesmo os que disputam com outros três grandes rivais. Por isso temos sempre que entrar em campo com o pensamento de sermos campeões. Temos condições para isso. Se vier, vai ser com muita luta, trabalho e esforço. Se formos campeões, vamos resgatar muita coisa para o Vasco – resumiu Edmílson em entrevista ao GloboEsporte.com.
Um título, aliás, que o atacante e o elenco vascaíno esperam poder dedicar a Juninho Pernambucano, ídolo do clube que recentemente anunciou sua aposentadoria. Nesta entrevista às vésperas do primeiro Vasco x Flamengo no novo Maracanã, o destaque vascaíno falou de seu bom momento no início da temporada, relembrou os dez anos longe do país e brincou com o apelido de “Edmito” criado pelos torcedores.
– Ainda estou longe de ser mito. Ainda posso dar muito ao Vasco. Mais para a frente, por que não? Mas por enquanto vamos só de Edmílson mesmo (risos).
Como você analisa o seu início de ano? Esperava essa boa fase?
Sinceramente? Eu já esperava começar bem o ano desse jeito, até pelo meu fim de temporada em 2013. Foi muito bom individualmente. Agora também me preparei bem, estou com a cabeça boa e procurando ajudar o Vasco. Quero dar sequência a esse momento. Todos confiando um no outro. Isso é importante para a equipe sair vencedora.
Foram 10 gols nos últimos 14 jogos pelo Vasco. É seu melhor momento?
Já tive uma sequência muito boa no Japão. Não me lembro ao certo, mas acho que foram oito gols em 10 jogos. É preciso estar preparado para tudo. Sempre concentrado, porque a bola chega e tenho que estar bem para marcar o gol. Por isso procuro fazer meu melhor no dia a dia. Não adianta ir mal no treino porque no jogo também não vai dar certo. O treino é o reflexo do jogo. Claro que não é sempre assim, mas estando bem consigo mesmo já é uma grande evolução.
Além de gols, você também deu uma bela assistência para o Thalles decidir o clássico contra o Botafogo. Essa é uma dupla que pode dar certo?
Jogamos juntos algumas vezes em 2013 e deu certo. Lógico que isso é um problema do Adilson, mas se eu falar que não podemos jogar juntos, por mais que o estilo de jogo seja o mesmo, estaria mentindo. É um jogador que escuta os conselhos e tem um futuro brilhante pela frente. Pode jogar com qualquer um que vai se sair bem.
Já pensa na artilharia do Carioca?
Claro. É um passo a mais, um foco individual. Não posso falar que não penso nisso. Penso sim. Quero ser artilheiro, ser campeão, entrar para a seleção do campeonato. Até para conquistar mais a confiança do time, da diretoria… Mas se o título vier, eu nem vou me preocupar com isso.
E o que esperar desse clássico contra o Flamengo?
Vai ser um jogo importante para nós. Os dois clubes vivem momentos bons. Vamos respeitar o Flamengo, e eles também vão nos respeitar. Temos que ter atenção porque é um jogo especial, diferente para todos. Essa semana eu fiquei bem focado no Flamengo.
Já imaginou decidir o jogo que marca a volta do confronto ao Maracanã?
Não penso em ganhar esse rótulo de decidir alguma coisa. Ninguém joga sozinho. Prefiro que o grupo ganhe. Lógico que vou ficar muito feliz se ganhar o jogo, mas vai ser difícil. Tem que ser um jogo de erro zero, atenção total. Treinamos muito durante a semana para ir bem no clássico.
Você saiu muito cedo do Brasil, com apenas 21 anos. É seu melhor momento no futebol brasileiro? Fazer seu nome por aqui é um objetivo?
É sim meu melhor momento no futebol brasileiro. Na verdade ser famoso por aqui nunca foi a minha primeira opção. Não ligo muito para isso, sou bem tranquilo. Mas é lógico que a cada dia que passa, mostrando meu trabalho, o reconhecimento aparece. É legal ser abordado na rua pelos torcedores que pedem mais um gol, que pedem para dar parabéns ao elenco. Isso é importante. É um trabalho que precisa ser feito até para que meus filhos possam sentir orgulho de mim no futuro. Cada dia que passa procuro fazer meu melhor para aumentar esse reconhecimento.
Porque voltar ao Brasil depois de tantos anos no exterior?
Meus dois últimos anos foram no Catar. Mas não gostei muito de lá. Não havia cobrança, responsabilidade, ambição… Sequer tinha clima de jogo. O estádio estava sempre vazio. Tive a chance de voltar ao Japão, mas já estava há muito tempo longe do Brasil. Minha filha de 10 anos, por exemplo, precisava aprender melhor o português. Pensei nela também. Primeiro apareceu o Vitória e não deu certo. Depois veio o Vasco. Hoje tenho que agradecer muito ao Paulo Autuori, um cara que confiou muito em mim. Só tinha jogado contra ele e agradeço a ele e a Deus por estar no Vasco hoje.
Chegou a passar por alguma situação engraçada nesse período longe do Brasil?
No Catar até que não, até porque lá o futebol não é muito profissional. Mas no Japão eu sofri com o idioma no início. Falava português e obviamente não entendiam nada. Ai eu perguntava para o interprete como se falava “bom dia” e já estava de tarde. Mas eu falava “bom dia” mesmo e pronto (risos). Aprendi bem o japonês depois de oito anos por lá. Conseguia me virar bem.
O Vasco terminou 2013 rebaixado e começou bem a atual temporada. O ambiente já é outro?
Dentro do vestiário, entre os jogadores, sempre foi tranquilo. Todos se respeitam. É óbvio que em 2013 aconteceram algumas coisas que tínhamos de deixar de lado. Dentro era com a gente. Fora do vestiário era com a diretoria. Agora chegaram novos jogadores e precisamos resgatar o Vasco e sua torcida. Um clube grande não pode passar por isso. Por outro lado, tudo é um aprendizado. É mais um para nossas vidas profissionais e pessoais. Na dificuldade é que vemos realmente quem está ao nosso lado. Vejo o grupo focado e isso é importante para o trabalho ser bem feito. Estamos invictos há sete jogos em 2014, por exemplo. Não sei há quanto tempo isso não acontecia no Vasco. Mesmo assim muita gente ainda desconfia, fala que só vamos conseguir esse desempenho no estadual… A cada dia que passa, temos que provar que o Vasco está diferente, que está mesmo pensando no título.
Já são mais de dez anos do último título carioca. A cobrança por causa do jejum atrapalha?
Nenhum clube grande pode ficar dez anos sem ganhar um estadual. Nem mesmo os que disputam com outros três grandes rivais. Por isso temos sempre que entrar em campo com o pensamento de sermos campeões. Temos condições para isso. Se vier, vai ser com muita luta, trabalho e esforço. Se formos campeões, vamos resgatar muita coisa para o Vasco.
Claro, mas temos que ir passo a passo. Hoje nosso foco é o Carioca. Outro dia vi uma declaração do Jefferson, do Botafogo, falando bem do Vasco. Dizendo que era preciso respeitar o Vasco. Aos poucos vamos readquirindo essa condição. O Flamengo também vai pensar assim, como depois o Fluminense. O respeito se ganha a cada jogo.
Como grupo reagiu ao adeus de um ídolo como o Juninho?
Foi difícil, não há como negar. Um cara que viveu e ainda vai viver muito no mundo do futebol. Um cara que não só ajudou muito a todos, como ainda é craque e ídolo. O que ele fez pelo Vasco são poucos que conseguiram. Faz parte do seleto grupo de jogadores que fizeram história no clube. Um jogador e uma pessoa sensacional. Mas o futebol infelizmente é assim. Um dia chega a hora de parar. Se eu pudesse falar, e todos os outros concordariam, pediria para ele continuar. Mas é preciso respeitar a decisão que foi tomada. Queremos conquistar esse título para ele. Vai ser uma forma legal de homenagear o Juninho. Tenho certeza de que ele vai ficar muito feliz.
Você gosta de ser chamado de “Edmito” pelos vascaínos?
(Risos). Vou ser sincero: ainda não dá para me chamar assim. Esse rótulo eu deixo para quem fez história no Vasco, como Edmundo, Romário, Juninho, Dedé… Ao mesmo tempo é legal ouvir algo assim porque mostra que o trabalho está sendo bem feito. Mas ainda estou longe de ser mito. Ainda posso dar muito ao Vasco. Mais para a frente, por que não? Mas por enquanto vamos só de Edmílson mesmo (risos).