Quem tem a oportunidade de conversar com Adílson Batista logo se surpreende com o sorriso aberto e as muitas brincadeiras, que mostram alguém bem diferente da pessoa sempre concentrada e séria à beira do gramado nas partidas do Vasco. Fora de campo, o estilo caipira desse paranaense de Adrianópolis já conquistou a todos em São Januário. Mas falar de futebol é algo muito sério para o treinador.
Adílson prega a mudança de alguns clichês do mundo da bola. O primeiro deles é o de que assumir o Vasco à beira do rebaixamento no Brasileiro no fim do ano passado foi coisa de maluco. Ele diz ter refletido bem antes de aceitar o convite, assegura que não se arrepende e vai além.
– Aceitei vir e continuar agora porque acredito no sucesso. E durmo tranquilo com a minha consciência todos os dias. É loucura trabalhar em um clube dessa grandeza? Quero ganhar respeito aqui com trabalho e é o que estou buscando todos os dias.
Defensor ferrenho do profissionalismo, Adílson acredita que a melhoria do futebol passa pelo entendimento de que a mentalidade atualmente dominante é equivocada.
– Muitas situações foram acrescentadas ao futebol e fizeram a dinâmica mudar. Empresários, maior exposição na mídia… E aí muitos se sentem mais do que realmente são. As pessoas precisam fazer por merecer o que têm. Hoje, o jogador está aqui, mas não está. O empresário fala que ele precisa ir bem para trocar de clube. Tenho que conviver com isso, mas não é fácil — analisa.
Para relaxar, Adílson dedica-se à leitura. Sua última aquisição foi “Inteligência Emocional”, do escritor americano Daniel Goleman, que trata de pesquisas e descobertas sobre o funcionamento do cérebro. O técnico vascaíno reconhece o quanto é difícil conviver com pensamentos e comportamentos tão distintos no futebol.
– A gente lida com cabeças diferentes, a vaidade é grande. Imagina se um time do Brasil tocasse a bola como o Barcelona que, quando precisa, recua para o goleiro? Ia ser uma loucura. Os nossos meias acham que os volantes é que precisam roubar a bola. Lá fora tem rodízio de jogador. Aqui, ninguém entende que ser reserva não é menosprezo. É preciso a ajuda de todos para revermos esses conceitos.
Respeito como legado
Aos 45 anos, Adílson Batista quer ficar pelo menos mais 15 à beira do campo antes de se dedicar a outra função. Para ser técnico, segundo ele, a preparação começou quando ainda atuava e foi comandado por Ênio Andrade, Oswaldo de Oliveira e Luiz Felipe Scolari.
– Tive vários excelentes treinadores e observava muito o trabalho deles. Mas Ênio, Oswaldo e Felipão me chamavam muito para conversar sobre tática. Eu pensava na frente, já queria ser técnico, e eles me ajudaram muito.
Adílson é o tipo de profissional que não gosta de destacar suas qualidades. Seu maior orgulho, porém, é ouvir elogios de alguns de seus comandados. Um prêmio que, para o atual treinador do Vasco, será seu maior legado para o futebol.
– Trabalhei com vários jogadores altamente profissionais, e eles podem dizer como sou, como trabalho, as vezes que briguei. Eles podem falar sobre a minha contribuição para o futebol. Prego o respeito a todos, principalmente à instituição e ao torcedor, que faz da paixão a sua vida.
Apesar das cobranças e da intensa rotina de treinos, análise de jogos de adversários e da preparação para os jogos, Adílson é fascinado pela função de treinador. Mesmo em um clube cheio de dificuldades como o Vasco que encontrou desde que chegou no final do ano passado.
– Ser técnico é outro mundo, com mais responsabilidade, cobrança, preocupação com coisas que não são só do campo. Mas dá um prazer enorme. Acho o máximo ser parceiro do clube, ajudar nas dificuldades. Não sou de ficar me lamentando.
Há 13 anos na função, Adílson Batista tem apenas um arrependimento: ter deixado o Cruzeiro, clube pelo qual foi vice-campeão da Libertadores em 2009.
– Montei o time, preparei tudo e, quando decidi sair, levei o Cuca na minha casa, passei tudo para ele. Eu me arrependi, mas estava cansado de ser o culpado por tudo. Faz parte da profissão também.
Fonte: Extra