O tamanho da divergência entre as versões de Valdiram e de funcionários do Comercial-AL dá uma boa medida do quanto foi tumultuada a passagem do atacante pela equipe. Artilheiro da Copa do Brasil de 2006 com a camisa do Vasco, o jogador ficou apenas um mês no time alagoano. Foi o suficiente para o presidente acusá-lo de furto e de envolvimento com drogas. E para ele reclamar de falta de água e comida.
Valdiram, 31, foi anunciado como reforço do Comercial-AL em dezembro do ano passado. O acerto com a equipe foi uma tentativa de o jogador retomar a carreira, que havia sido abalada por problemas de indisciplina e consumo de drogas. Ele chegou a ser internado em uma clínica de reabilitação em 2011.
Na última sexta-feira, em entrevista ao site “THN1”, o presidente do Comercial-AL, Flavius Flaubert, anunciou que Valdiram havia sido dispensado. Além disso, acusou o jogador de ter voltado a se envolver com drogas e de ter furtado o celular de um companheiro de elenco. Segundo o dirigente, o atacante teria vendido o aparelho por R$ 50 para comprar entorpecentes.
“Ele estava muito bem aqui, dando até exemplo para os garotos, e de repente acontece isso aí. Ele roubou um celular, o que é um crime lamentável. Um celular já tinha sumido, mas nós não temos como provar nada. Desta vez ficou provado porque a pessoa que comprou o aparelho disse que tinha comprado dele”, disse Flaubert em entrevista ao UOL Esporte.
Valdiram tem contrato com o Comercial-AL até abril. Segundo o presidente, o clube fará um BO (Boletim de Ocorrência) com relatos dos últimos episódios envolvendo o atleta. A ideia é conseguir demiti-lo por justa causa e fugir de encargos contratuais.
“Quando ele chegou aqui houve uma reportagem em que ele assumiu que tinha estuprado uma mulher e mexido com cocaína. Achei até bom ele ter falado porque ele podia mostrar que estava mudado, mas aconteceu tudo de novo”, acusou Flaubert.
Paulo Roberto, treinador do Comercial-AL, também fez acusações contundentes. O atual comandante da equipe alagoana já havia trabalhado com Valdiram em 1999, quando foi gerente-geral do CRB. Na época, o jogador estava nos juvenis da equipe.
“Ele dava muito trabalho. Hoje o problema é que ele caiu novamente nas drogas. A cabeça dele está totalmente desorientada. Ele andou trocando tapas com um pessoal nas ruas, e o pai dele teve de vir de Pernambuco para levá-lo embora. Se não fosse isso, ele podia sair morto da cidade por causa de tanta confusão, até mesmo com traficantes”, disse o técnico do Comercial-AL.
Segundo Paulo Roberto, Valdiram passou apenas 20 dias no Comercial-AL. “Em cinco ele ficou mexendo com drogas e fez outras coisas como o furto aqui na concentração. No começo ele disse que ia voltar a ser um jogador legal, mas houve os episódios com as drogas e o celular”.
O treinador contou que chegou a ter uma longa conversa com Valdiram, que se comprometeu a mudar o comportamento. “Depois de 15 dias, ele abandonou o clube e caiu no mundo”, criticou Paulo Roberto.
O problema é que todas essas histórias são veemente contestadas por Valdiram. A versão do jogador é que ele abandonou o Comercial-AL porque constatou graves problemas na infraestrutura do clube.
“Eles não oferecem boas condições para um jogador trabalhar. Não fiquei satisfeito, por exemplo, por treinar e não ter água para beber. Alimentação havia em um dia, mas faltava no outro. Muitos jogadores que estavam lá saíram”, ponderou o atacante.
“Foi um absurdo a gente ter treinado na sexta-feira [10 de janeiro], em dois períodos, porque o time jogaria no sábado. Aí chegamos para jantar e não havia comida. Trabalhamos o dia todo num sol de 40ºC e só tinha pão com ovo. Isso me deixou triste”, completou Valdiram.
O jogador ainda negou as histórias sobre furto na concentração e recaída no envolvimento com drogas: “Isso não é verdade. Não tem nada a ver. Eu não uso mais nada. Passei por um momento difícil, mas me recuperei. Me converti evangélico em 2011, fiquei um tempo em recuperação e consegui mudar. Hoje eu não mexo mais com isso. O homem é falho e pode errar, mas eu não voltei a fazer nada”.
Valdiram ainda não assinou a rescisão do contrato com o Comercial-AL. Portanto, ainda terá um novo encontro com a cúpula da equipe alagoana. Sem empresário, o jogador espera receber pelo menos o valor referente ao tempo em que esteve no clube.
“Ninguém tem o que falar de mim. Fiz meu trabalho correto, nunca faltei aos treinos e nunca cheguei atrasado. Eu saí por opção minha, por ver que não havia condições. Arrumei minhas coisas e disse que estava indo embora. Liguei para o meu pai e pedi para ele me buscar. Agora, se o presidente falou que eu estava na boca de fumo, ele vai ter de provar. Falar é fácil, mas cadê a prova?”, questionou o jogador.
Fonte: Uol