Desde a última quinta-feira, quando divulgou carta aberta sobre o assunto aos torcedores, o tema restruturação financeira citado frequentemente nos canais oficiais e no noticiário do Vasco. Espinhoso por se tratar de um tema (problemas financeiros) que o torcedor certamente gostaria que tivesse ficado no passado após a transformação em SAF, o movimento é tratado com cuidado em sua divulgação, mas é importantíssimo para a a manutenção do futebol do clube e pode impactar diretamente na venda das ações.
Nesta terça, o clube lançou uma série de vídeos com falas do CEO Carlos Amodeo, do diretor de finanças Raphael Vianna e do vice-jurídico Felipe Carregal com mais explicações sobre o processo.
A “reestruturação financeira” não é uma simples “economia” ou um ano de finanças apertadas. O clube iniciou uma renegociação geral de suas dívidas, de mais de R$ 600 milhões. Para isso, acionou a Justiça e obteve decisão favorável para se manter por 30 dias livres (prorrogáveis por mais 30) de execuções ou penhoras.
O que são execuções?
Execuções (ou penhoras) são consequências de dívidas com atrasos ou sem pagamento que acabam tendo como desfecho decisões judiciais de busca nas contas e em outros bens do clube por recursos que possam “pagar” essa dívida de forma compulsória. O Vasco sofreu com penhoras nas últimas duas décadas.
O que o Vasco fará?
Nesses 30 dias livres dessas execuções, o Vasco vai procurar seus credores (pessoas, empresas e instituições a quem deve) para tentar uma mediação ou renegociação dessas dívidas. O processo é mediado e legitimado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Uma das intenções do projeto é que o clube consiga condições mais facilitadas de pagamentos, seja em prazos, juros ou na própria quantia devida.
E depois?
O Vasco ainda não detalhou seus planos após o fim da mediação. É possível que o clube monte um planos de pagamentos individuais e siga com eles, assim como pode procurar a Justiça para apresentar um plano de recuperação judicial ou extrajudicial após a possível adesão dos credores. De qualquer forma, o cenário esperado é de mais controle sobre a dívida, com prazos alongados e quantias menores, que sufoquem menos a situação do clube.
Isso significa que a SAF não será mais vendida?
A renegociação de dívidas, na verdade, deve um ponto positivo para a futura revenda das ações do Vasco. Investidores interessados em ativos como clubes de futebol buscam condições facilitadas para o pagamento de dívidas grandes como a do cruz-maltino. Não à toa, as renegociações e os pedidos de recuperação foram caminhos seguidos pelas SAFs de Cruzeiro e Botafogo, por exemplo.
No FAQ (perguntas e respostas) divulgado pelo clube na última sexta-feira, há um item que fala sobre o assunto:
“Essa reestruturação não apenas estabiliza o clube financeiramente, mas também valoriza o patrimônio ao melhorar a saúde financeira da Vasco SAF. Isso significa que, ao seguir o caminho da entrada de novos investidores no futuro, o clube poderá negociar em condições mais favoráveis e menos fragilizadas”, diz trecho de uma das respostas.
A renegociação pode atrapalhar a gestão da SAF e os investimentos no futebol?
Pelo contrário. A renegociação de dívidas, se bem feita, tende a impedir que dívidas de curto prazo ameacem as finanças do próximo investidor do Vasco, permitindo que o futebol seja menos afetado pelas questões financeiras que se arrastam no clube. Permite também uma tranquilidade maior na gestão de recursos entre o que será destinado a dívidas e ao futebol.
Em vídeo publicado na quarta-feira na VascoTV, o vice-presidente jurídico do clube, Felipe Carregal, fez críticas à 777 Partners, sócia da SAF do Vasco afastada na Justiça desde maio, afirmando que não houve controle da dívida com o dinheiro aportado.
“A Vasco SAF nasce devendo R$ 700 milhões. Se você tem uma empresa que deve R$ 700 milhões, precisa pagar de alguma forma. O nome disso é gestão ativa da dívida. Não estava sendo feito […] Tinha dinheiro novo, a 777 poderia ter feito essa mediação, resolvido o problema do Vasco, não fez porque não quis. Não tinham interesse em resolver o problema do Vasco. No Bahia, o Grupo City, com uma gestão ativa da dívida, rapidamente pagaram”, disse ele.
E o regime centralizado de execuções (RCE)?
O regime centralizado de execuções é um mecanismo que faz parte da lei da SAF e determina que o clube destine 20% de suas receitas mensais para o pagamento, via Justiça, de uma fila organizada de credores, sob a condição de que fique livre de penhoras. O Vasco vinha fazendo os pagamentos da dívida por meio do RCE. A decisão judicial que suspendeu as execuções por 30 dias também desobriga o clube a fazer esse pagamento no período. Em entrevista à VascoTV, o diretor de finanças da SAF, Raphael Vianna, afirmou que o RCE “faz parte da renegociação”.
— O RCE faz parte dessa renegociação. Nos próximos 60 dias, teremos negociações com esses credores para tentar melhorar os pagamentos. Eu sei que é muito ruim para quem espera algo a receber ter que renegociar, mas acreditem em mim: é isso ou o Vasco poderia quebrar, o que seria horrível e você (credor) não iria receber nada. Essa é a visão que tem que ser aceita por todo mundo. Infelizmente. É duro, mas é isso.
Clube abre espaço para dúvidas
Na série de vídeos que vem lançando na VascoTV, o clube abriu espaço para os torcedores tirarem dúvidas. O e-mail é reestrutura@vasco.com.br.
Fonte: Globo Online