Nove gols em 14 partidas, no centro de uma discussão que envolveu Mourinho e ‘pedindo’ passagem na seleção brasileira. Não resta dúvida: Anderson Talisca é o ‘cara’ do momento. Em alta no Benfica, ele foi mais uma vez decisivo na vitória por 1 a 0 sobre o Monaco, na última quarta-feira, pela Uefa Champions League. Um roteiro que avança de forma rápida, mas que poderia ter um percurso diferente: aos 13 anos, o meia-atacante de passadas largas e que desperta comparações com Rivaldo foi dispensado do Vasco.
O motivo, segundo funcionários que trabalhavam na época nas categorias de base do clube, foi a falta de espaço no alojamento cruzmaltino. Outro fator secundário apontado seria a possibilidade de problemas com a Lei Pelé por abrigar menores de 14 anos.
O episódio é contado também por Newton Motta, ex-diretor das categorias de base do Bahia, responsável por trazer o garoto para o Fazendão, centro de treinamento tricolor, após passagem frustrada por São Januário.
Talisca, natural de Feira de Santana, interior baiano, atuava pelo modesto Astro e, aos 13 anos, despertou o interesse do Vasco e foi buscado para integrar os infantis dos cariocas. Não passou mais do que uma temporada e retornou para casa.
O próprio atleta, através de sua assessoria de imprensa, confirma a passagem pela Colina.
“Acabou não dando certo porque faltou lugar para ele”, conta Motta ao ESPN.com.br.
“Nessa época, ele estava no Astro e foi passar um período no Vasco, alguns meses, atuando na categoria sub-15 mesmo com baixa idade. Não funcionou e um agente de jogadores chamado Rivelino, que observava atletas para mim na região, me disse que tinha um menino e queria trazer para treinar conosco”, prossegue.
Nessa época, Talisca ainda não era Talisca.
Anderson, como era conhecido, só veio a ganhar o apelido no primeiro semestre de 2009, durante os testes no Bahia.
“Um outro garoto nesse dia, quando o viu, pernas compridas, magrinho, na época com 50 kg, soltou: ‘parece uma talisca’ (pedaço de madeira). Acabou pegando, todo mundo riu e, no seu primeiro ano, ele já se sagrou campeão da Copa Zico, no Rio de Janeiro. Nesse time, ele era o maestro, batia falta, pênalti, escanteio, não era um volante de marcação, atuava com liberdade, mais ou menos como o Paulinho”, relembra Motta.
Nos corredores, o atleta que tem hoje 20 anos comandava as brincadeiras, liderava uma banda de pagode ao lado do lateral-direito Railan, uma das revelações do Brasileirão, e era motivo de piada por conta da pronúncia de seu francês.
Sim, o francês.
O seu clube anterior, o Astro, conseguiu através de um projeto do Governo Federal para crianças carentes a chance de disputar uma competição no país europeu. Talisca – que ainda não era Talisca – foi parte da delegação feirense e, ao desembarcar no Bahia, se vangloriava junto aos companheiros por ter tido a chance de conhecer a Torre ‘Eifo’, também conhecida como Torre Eiffel, um dos mais tradicionais pontos turísticos de Paris.
Do alto de seus 1,88m, o símbolo da capital francesa e seus 301m soam pequenos hoje para o seu talento.
Ficaram para trás as piadas, o Bahia e o Vasco.
Antes Yayá Talisca, ele hoje tem nome próprio no futebol europeu.
Fonte: ESPN.com.br