Em nenhum lugar do mundo vestir a camisa que a seleção nacional vai usar na Copa do Mundo pesa tanto no bolso quanto no Brasil. No país, o preço desse artigo representa 16% da renda média mensal de um trabalhador – a camisa é vendida a R$ 349,90, enquanto o salário médio, de acordo com o Banco Mundial, é de R$ 2.177,00. A Nike justifica o preço com o argumento que há muita tecnologia embutida no tecido e que existe uma versão mais barata, de R$ 229, mas essa não é a usada pelos jogadores no Mundial.
O preço da camisa oficial é 75% maior que a do Corinthians, também feita pela Nike, e uma das mais caros do país pela popularidade do time. Mas isso se o consumidor optar pela versão sem o nome e o número estampado nas costas, a chamada personalização. Caso queira este serviço o torcedor precisa desembolsar R$ 34,80 adicionais. O preço final fica em R$ 384,70.
É quase o suficiente para comprar a camisa titular e a reserva de times tradicionais como São Paulo, Vasco, Cruzeiro e Internacional. E a camisa do Brasil nem é aquele com maior preço na etiqueta. Levando em conta a versão sem personalização e fazendo a conversão com a cotação do Banco Central, Portugal e França apresentam os maiores valores do mundo.
Os portugueses, que nem título Mundial conquistaram, precisam desembolsar 119,90 euros (R$ 372). Os franceses precisam tirar da carteira 120 euros para ter o uniforme (R$ 372). Ocorre que ambos os países têm renda bem acima da brasileira. Os franceses ganham em média duas vezes e meia mais e os conterrâneos de Cristiano Ronaldo têm uma renda 77% superior. Ou seja, eles comprometem menos parte do salário para comprar a camisa – 4,7% na França e 9,6% em Portugal.
O valor cobrado no Brasil foi bastante criticado quando a camisa foi lançada em novembro do ano passado. A reportagem publicada à época pelo UOL Esporte teve 146 comentários e o tom foi o descontentamento com o preço. O internauta Alexandre Souza Francisco escreveu “é melhor desistir e esquecer a camisa, o preço é abusivo visto o salário mínimo”. Luizz Fernando ironizou. “Tá barato, o brasileiro é o povo mais rico do mundo”.
Outro parâmetro é a comparação com a camisa da Inglaterra. Quando o preço foi anunciado em Londres, houve revolta dos torcedores que consideraram um ultraje cobrar 90 libras (R$ 340 conforme a cotação do Banco Central). O caso virou questão de estado e até o primeiro-ministro David Cameron entrou na discussão, endossando as críticas. A ministra dos Esportes, Helen Grant, usou o Twitter para dizer que o valor não é justo. E toda a repercussão foi consequência de um valor inferior ao praticado no Brasil.
Um ponto curioso é que as camisas de valores mais altos e citadas na matéria são todas da Nike. As principais concorrentes, Puma e Adidas, cobram cerca de R$ 100 a menos. Caso da camisa alemã (Adidas) que custa o equivalente a R$ 234 (74,95 euros). A da Itália (Puma) sai R$ 246 (79 euros).
A Nike justificou que o valor reflete a tecnologia empregada no tecido. Informou que o material foi desenvolvido após pesquisas e feito para regular a ventilação e a temperatura do corpo. Acrescentou os estudos aumentaram a resistência e a elasticidade da camisa para facilitar a movimentação e o aumentar o conforto. Por fim, a empresa lembra que existe outra versão por R$ 229,90 chamada de versão do torcedor, que por não contar com as soluções criadas com os testes é mais barata.
Fonte: Uol