
O São Paulo e o Santos são os outros paulistas com atrasos. No Botafogo, há relatos de pagamentos pendentes de comissões e contração de empréstimos. Flamengo, Vasco e Fluminense estão em dia. No Internacional, há contratações com pagamentos pendentes. Na prática, os dirigentes que esbravejam contra os preços dos atletas não estão dispostos a debater o tema sem o escudo de seu clube na frente. Vários da Série A foram procurados oficialmente e não se manifestaram, incluindo Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG, Grêmio, Inter, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense.
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, emitiu comentários este ano, antes da divulgação de que o clube chegou a R$ 1,2 bilhão em receitas operacionais em 2024.
– O problema do futebol é o descontrole financeiro. Somos responsáveis financeiramente e por isso conquistamos títulos. Se você não for responsável, pode até ganhar um título, mas depois vai ter problemas. Precisamos de uma regulamentação – pediu.
Exemplos e ameaças de fora
Pelo mundo, há exemplos de que o problema pode ser combatido. Na Espanha, por exemplo, houve um controle orçamentário. Depois disso, em 10 anos, os clubes liquidaram as dívidas e os atrasos de salários. Mas é necessário uma organização que previna que eles façam isso. Isso pode ser feito de duas formas: ou através de uma legislação, uma regra da Liga, da federação, que é de fora pra dentro, ou pode ser feito via estatuto do clube, que poderia penalizar o dirigente que é irresponsável do ponto de vista fiscal. A segunda discussão também engatinha no Brasil.
“Hoje você tem mais recursos. A curva de receita dos clubes subiu. Estão colocando mais em jogadores. Mas isso é um movimento que o futebol brasileiro vai experimentar de qualquer maneira. Ainda está com valor degradado em relação ao potencial dele. O volume de recursos vai aumentar”, prevê Fred Luz.
É nesse cenário que mesmo as SAFs correm perigo de quebrar. Por isso, é necessário que modelos de profissionalização, com ou sem investidores, virem exemplo. Assim, a dívida poderá cair, como fizeram Flamengo e Palmeiras, e o futebol brasileiro poderá se tornar mais competitivo com outros centros contra os quais já rivaliza em investimentos.
“O futebol brasileiro vai começar a ficar competitivo com os países do meio do caminho, como Portugal, Ucrânia, Rússia. Estamos chegando nos padrões do mercado internacional. Hoje tem que olhar a folha salarial do Flamengo, do Palmeiras, e tem que comparar com a do Benfica, do Porto, do Shaktar, do Zenit. E tem o futebol árabe”, acrescenta o sócio da Alvarez & Marsal.
Nova centro de investimento no futebol, a Arábia Saudita investe o dinheiro do fundo soberano do país em sua liga, e também inflaciona o mercado internacional, incluindo o Brasil. Com a diferença de já exportar seu torneio para ser exibido pelo mundo, algo que os clubes brasileiros ainda não conseguiram tirar do papel. Nos Estados Unidos, a MLS estabelece teto salarial para jogadores. Messi, que recebe acima, teve aprovação da liga. No Brasil, não há um fórum para o debate que funcione de fato. Logo, prevalece a lógica do mais esperto, da farinha pouca, meu pirão primeiro.
Fonte: Agência O Globo