Paulo Bracks deixou o Vasco em dezembro de 2023, com o anúncio de que seu contrato não seria renovado um dia após o jogo que garantiu a permanência da equipe na Série A do Campeonato Brasileiro. Seis meses já se passaram desde a sua saída, mas ele ainda recebe ligações dos jogadores por conta da instabilidade política do clube, com o racha entre a 777, empresa que comprou a SAF, e a presidência da associação.
Em Londres para a Conferência Global da Associação dos Diretores esportivos, com presenças de dirigentes da Inglaterra, Bélgica e Estados Unidos, Paulo Bracks falou ao Transfermarkt e deu detalhes sobre a instabilidade política do Vasco e analisou o momento atual do futebol brasileiro.
“Esse ano fui procurado por jogadores do Vasco. Não foi uma, duas, três vezes não. Foram várias vezes. Eles me ligam para falar ‘me ajuda a entender o que está acontecendo’. Mas eu não estou mais no dia a dia do Vasco. O que posso dizer é que comigo, quando eu estava lá, isso não acontecia. É questão de perfil. Tem diretor que perde o jogo porque está em viagem. Eu nunca perdi um jogo. O jogo é trabalho, eu preciso estar ali. Eu preciso controlar o ambiente. Às vezes você nem precisa falar, mas só de você estar ali já mostra respeito. Tem jogador que faz gol e dedica para mim até hoje. Isso é respeito”, disse o dirigente.
A passagem de Paulo Bracks pelo Vasco teve duração de um ano e meio. Apesar da promessa de forte investimento da 777 Partners, grupo que também comanda o Genoa (Itália), Standard Liege (Bélgica) e o Red Star (França), a empresa norte-americana tem tido problemas financeiros e também de gestão no clube brasileiro.
Desde maio, o presidente Pedrinho, que foi jogador e ídolo do clube, move uma ação contra a 777 para recuperar o controle do futebol vascaíno. A ação gerou uma liminar, que devolveu os direitos ao clube.
Paulo Bracks prefere não entrar em detalhes sobre a disputa política entre Vasco e 777 Partners, mas garante que o investimento feito pela empresa não superou o dinheiro arrecadado com vendas de atletas, como Andrey Santos, Marlon Gomes, Gabriel Pec e outros.
“Eu não controlava o caixa do Vasco, mas posso dizer sobre o departamento de futebol. As vendas que nós fizemos superam o dinheiro que gastamos com contratações. A receita nossa era superior ao investimento que o clube fez. Isso é fato. E era um momento complicado porque tínhamos de trocar um elenco de Série B para um da Série A”, explicou.
Nos dados do Transfermarkt, a quantia que o Vasco gastou em contratação e ganhou em vendas é praticamente o mesmo. No período de Paulo Bracks, sob o comando da 777 Partners, o clube gastou 42,9 milhões de euros em contratações e recebeu 41,8 milhões de euros em vendas.
Membro da Associação Brasileira dos Executivos de Futebol (Abex), Paulo Bracks tem passagens por América Mineiro, Internacional e o Vasco. No primeiro clube, ele viu o surgimento de Vitor Roque, que logo se transferiu para o Cruzeiro antes de ser negociado com o Athletico Paranaense.
Outra estrela que surgiu em Minas Gerais foi Estêvão, jogador do Palmeiras e que deixou o Cruzeiro de graça por problemas administrativos do clube. O novo destino do jovem será o Chelsea, que pode desembolsar até 65 milhões de euros, caso a promessa cumpra metas contratuais na Inglaterra.
Um dos tópicos da palestra de Paulo Bracks no Congresso foi a de gestão de novos talentos, com um exemplo claro de Estêvão. O executivo detectou a qualidade do palmeirense ainda criança, mas temeu que ele se perdesse por conta da fama, holofote e dinheiro.
“Eu conheço o Estêvão desde que ele tinha dez anos de idade. O apelido dele era Messinho. Mas era tanto dinheiro envolvido que eu pensei que ele não viraria. Já tinha contratato de marca esportiva, salário de mais de 10 mil reais na época. Era muito holofote, é muita pressão. Achei que fosse ser uma pressão igual o Jean Chera. Todo mundo se lembra do Neymar, do Gabigol, mas esquece do Jean Chera. Tem de ter muito cuidado para os meninos não se perderem no caminho. Ainda bem que o Estêvão se perdeu porque ele é muito talentoso. Este foi um dos temas que falei na palestra, de como é a fábrica de talentos do futebol brasileiro e como é preciso ter cuidado para não perder um grande talento”, explicou.
O momento no futebol brasileiro é de forte crescimento das Safs, como Cruzeiro, Vasco, Bahia e Botafogo já entregues a grupos de investidores, Paulo Bracks reconhece pontos positivos e negativos, mas vê diferenças nos projetos e algumas semelhanças com a gestão tradicional dos clubes.
“A Europa tem um ponto positivo que é ter um projeto esportivo. Isso falta ao Brasil em sua grande maioria. Eu não vou citar nomes, mas você claramente vê os perfis de sucesso e de insucesso. Tem de ter critério nas escolhas. Você não pode contratar um profissional e logo na sequência demitir. O Bahia é um bom exemplo. O time brigou contra o rebaixamento no ano passado, mas não rasgou o projeto. Eles tiveram resistência à pressão. Se você não dá garantia ao profissional, dificilmente você terá sucesso esportivamente”.
Sobre o encontro em Londres, Paulo Bracks vê a oportunidade como um ponto para troca de ideias e de experiências para discutir e melhorar o futebol mundial.
“É muito bom participar de um evento assim. E eu fui o único sul-americano. Os europeus se interessam muito sobre o trabalho que se faz no Brasil. Um congresso assim te dá a oportunidade de discutir e conhecer vários novos projetos, tendências, entender melhor o mercado”, finalizou
Fonte: Transfermarkt