Pedrinho justifica ação contra a 777 para que a Vasco SAF ‘não entrasse em um colapso financeiro’

Pedrinho, presidente do Vasco — Foto: Reprodução

Presidente do Vasco, Pedrinho concedeu entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira, em São Januário, para explicar a ação do clube contra a 777 Partners. A empresa foi afastada do controle da SAF por uma decisão judicial em caráter liminar, na noite de quarta.

Pedrinho diz que ação teve como objetivo proteger a Vasco SAF

– A ação é exclusivamente de proteção à Vasco SAF, para não acontecer o que aconteceu hoje com o clube belga, é para proteger as ações da SAF. Para que o Vasco não fosse prejudicado com um bloqueio e entrasse em um colapso financeiro. Eu sou vascaíno e todas as ações são para proteger o torcedor. A ação é jurídica, não tem intuito esportivo – explicou Pedrinho, que completou:

– O sentimento de amor que tenho pelo Vasco e as injustiças que estão sendo comentadas com relação a mim, as pessoas vão se arrepender. As pessoas só começaram a acreditar quando as informações foram dadas por veículos estrangeiros. Meu problema nunca foi e nunca será com a SAF, mas a legitimidade financeira. Diversas vezes pedimos garantias financeiras para não chegar nesse nível. Fiz isso para o Vasco SAF não quebrar.

O exemplo do clube belga citado por Pedrinho é referente ao Standard Liège. Decisão da Justiça da Bélgica nesta quinta bloqueou todos os bens da 777 no país europeu.

presidente revelou que entrou em contato com dirigentes da SAF nesta quinta para tranquilizá-los quanto à continuidade dos processos do futebol.

– O futebol não volta para o associativo, permanece e permanecerá com a SAF. A SAF continuará para sempre. Todo planejamento esportivo e financeiro continua com a SAF. Mesmo com as restrições, nunca deixei de sinalizar tudo o que estava acontecendo. Seria fácil eu lavar minhas mãos, esperando o caos acontecer, e dizer depois que eu avisei. O mais difícil para mim foi ter entrado com a ação. Tem que ter muita coragem para fazer o que fizemos, tudo em respeito à instituição Vasco da Gama. O que fizemos foi fiscalizar e cobrar. Quando muitas vezes virei chacota é lógico que machuca. Entrei aqui para pagar um preço que muita gente não quis pagar.

VP Jurídico do Vasco diz que ligação de Lúcio Barbosa disparou processo de ida do clube à Justiça

O CEO Lúcio Barbosa segue à frente da SAF do Vasco. O vice-presidente jurídico do clube, Felipe Carregal Sztajnbok, também participou da entrevista coletiva e contou que uma ligação do CEO, na semana passada, disparou processo de ida do associativo à Justiça.

– Na sexta passada, recebi uma ligação do CEO Lúcio Barbosa para comentar a notícia que teria saído de que a 777 estaria procurando um especialista de crise. O Lúcio disse que estava preocupado, não tinha informações e sabia tudo pela imprensa. A situação era totalmente surreal. Depois de uma reunião, todos os vice-presidentes tomaram a decisão de preservar o nosso patrimônio. Foi uma escalada. Ninguém premeditou. As notícias, desde a época em que fomos eleitos, mostraram que as coisas não estavam certas. Tomamos uma decisão firme, dura, mas hoje temos a tranquilidade porque fomos os primeiros que tomamos uma atitude de proteger o Vasco e a Vasco SAF.

Outras declarações de Pedrinho:

Ação judicial em semana de clássico

Pedrinho diz que deu “pitaco” em data da ação judicial: “Não tem como segurar para depois do Vasco x Flamengo?”

– Estamos falando de uma semana que poderia ter um Vasco x Flamengo. Ei dei um pitaco do aspecto esportivo. Falei: “Gente, não tem como seguramos para depois do clássico?”. Mas depois do Flamengo tem Fortaleza. Depois tem Palmeiras. Mas sei do impacto do Vasco x Flamengo. A resposta foi direta: “Vocês quer salvar o Vasco? Tem que ser agora”. Eu sabia que as pessoas não entenderiam. Isso é proteção. Ninguém entrou aqui brigando. Eu quero que eles (777) honrem tudo e que tudo volte ao normal. Se isso não acontecer, que entre outra empresa e respeite o Vasco dentro das questões contratuais e da história do Vasco.

Salários seguem em dia?

Pedrinho diz que “não vai mudar nada esportivamente” agora no Vasco e garante salários em dia

– Primeiro temos que ter ciência do que tem em caixa. Independentemente de entrarmos na Justiça, o que tem de dinheiro é a mesma coisa, porque não tem nenhum aporte para ser feito agora. Nada foi interrompido, nenhuma negociação, acerto com treinador, esportivamente nada. Os salários, dentro do que a gente imagina, vão ser honrados. Caso a gente entre e tenha já um colapso financeiro, pode ter certeza que o salário estará em dia. O cenário que imaginamos dentro do caixa da SAF é que tem receita para giro. Meu comprometimento é que se não tiver eu honro com os salários em dia e com todas as despesas mensais do Vasco.

– A ideia é que nunca tivesse nenhuma ruptura. Na reunião com os sócios eu disse que não teria necessidade de fazer esses movimentos se eles honrassem os compromissos. Se tenho uma empresa que corresponde a todas as expectativas contratuais, o cenário para mim era excelente, porque se Deus quiser vou entregar o estádio, estamos tirando as certidões negativas e o associativo vai voar. Eu não precisaria de resultado do time, não tenho ingerência, então minhas funções dependeriam exclusivamente do meu comportamento como gestor. Não quero o futebol, já falei com as pessoas da SAF. Vamos esperar o que vai acontecer, eu seguirei disposto a contribuir.

SAF segue do mesmo jeito

– O Vasco continua financeira e esportivamente do mesmo jeito com essa liminar. Não tem nenhuma receita para entrar e a janela de transferência não é agora. Todas as decisões tomadas continuarão, seja de treinador e elenco. O que há agora é uma relação mais direta entre SAF e associativo, que as pessoas entenderam que SAF e 777 eram uma coisa só, e não é, estamos deixando claro. E vai ter um conselho para que as pessoas que hoje administram a SAF possam se reportar a esse conselho. Acho que vai ser mais rápido porque essas pessoas vão ficar no Brasil. Vai ser assim até juridicamente a gente ver como vai ficar.

– Eu já tinha muita coisa para entrar na Justiça, resisti até o último segundo, porque nunca foi intenção de ninguém. Sei que estava havendo uma negociação. Quando pedimos as garantias e elas não acontecem, e logo depois o noticiário americano solta tudo o que soltou, foi emergencial. Teria que ser imediato, a única dúvida foi por causa do jogo contra o Flamengo, pensando como torcedor. Não teve jeito, fui amparado pelo meu jurídico: “O preço que você vai pagar é maior do que se acontecer um resultado ruim no clássico”. Até isso Papai do Céu abençoou, o jogo foi adiado, infelizmente por uma tragédia, mas qualquer coisa ruim que acontecesse em campo colocariam que foi porque eu estou tumultuando.

Intenção da 777 de vender a SAF

Pedrinho diz que 777 deixou claro “muitas vezes” a intenção de vender o Vasco

– Muitas vezes eles deixaram clara a intenção (de vender as ações), e o que eu sei é que tinha conversa. A gente tem que esperar a Justiça, o que vai acontecer daqui para a frente com a liminar. Da minha parte, eu vou acertar e vou errar, mas não vou sacanear nem deixar que ninguém sacaneie o Vasco. Eu não vou pedir que meu sócio tenha o mesmo sentimento que eu pelo Vasco, gostaria que ele tivesse muito sentimento e respeito pelo Vasco, que estivesse aqui no ano passado, aos 38 do segundo tempo, chorando como eu, que estivesse aqui na estreia do Brasileiro, que tivesse um representante aqui dia a dia dando satisfação.

Pedrinho se emociona e fala sobre indicações que fez à 777

Pedrinho se emociona: “Vivi aqui anos com o Vasco tendo briga judicial. Eu não queria ser responsável por mais uma”

– Estava hoje na sala do presidente, obviamente emocionado, porque é muito difícil ter que entrar na Justiça, porque vivi aqui anos e anos com o Vasco tendo briga judicial, e eu não queria ser o responsável por mais uma. Muito antes de sair a questão que saiu nos Estados Unidos, a gente tinha todo conteúdo para entrar, eu sustentei até o último minuto. A decisão que tive que tomar numa semana de Vasco x Flamengo me matou, porque eu sei o que cairia na minha conta.

– Nunca foi minha intenção retomar o futebol. Sempre usei as palavras colaborar e contribuir. Tudo que eu possa vir a indicar futuramente, eu indiquei para a 777 lá atrás. Indiquei membros para a comissão técnica, jogadores com números financeiros bons e capacidade técnica acima da média, acreditando que eles tinham dinheiro, por que eu faria isso se quero o mal da 777? Indiquei profissional que hoje servem à seleção brasileira para ser diretor. Sempre quis o bem do Vasco.

Atritos com a gestão da SAF

– Sobre o relacionamento com os representantes da SAF, é preciso deixar claro que nunca deveria ter tido uma divisão. Ela é o elo entre os dois sócios. Estamos tentando estreitar essa relação. Não queremos chegar querendo fazer decisão nenhuma. A questão da ida no CT ou não ida é muito relativo e as pessoas vão interpretar para politizar o Vasco. Nós temos um conselho que vão responder todas as demandas da SAF, eu faço parte deste conselho por ser presidente. Eu falei para as pessoas da SAF que estou aqui da mesma forma como sempre estive. Quero passar a segurança que está tudo normal como sempre esteve. Que fique tudo tranquilo. Viemos aqui para contextualizar a questão da ação, mas na questão esportiva que ninguém está interferindo no planejamento esportivo que já foi feito. A SAF continua andando do jeito que sempre andou.

Mantém acerto com o técnico Álvaro Pacheco?

– O que foi passado para mim é que está tudo resolvido com o técnico. Não tem porque ele não vir. A gente vai ter conhecimento se o contrato está assinado ou foi pré-contrato. Não tem temor. A SAF está ali, o dinheiro está ali. A instabilidade que as pessoas falam não têm sentido nenhum. As pessoas e os patrocínios que estão ali vão ser honrados. Essas são pessoas que querem o mal do Vasco. Aqui o papo é de sócio para sócio.

Possibilidade de parceria com a Crefisa

– Sou um amigo muito íntimo do José Lamacchia (marido de Leila Pereira, presidente da Crefisa). A Leila é uma referência no que diz sobre gestão esportiva e coragem, só que as pessoas confundem. Minha relação com o senhor José não tem nada a ver com a Leila. A minha relação é direto com ele, que sempre se mostrou muito disposto em ajudar o Vasco. A Crefisa é uma empresa séria, há anos no mercado, não preciso nem falar… A Leila tem que estar completamente destacada nisso, minha relação é com o José. Não tem conflito nenhum. José é meu amigo, tem interesse em ajudar o Vasco e a Crefisa tem interesse em ajudar o Vasco. Ponto.

Muda algo no associativo?

– Não muda nada. Sou presidente do associativo, preocupado com o associativo e preocupado em dar seguimento com a questão do estádio. Nós demos um passo muito grande para que tudo dê certo. Não gosto de prometer e dar datas. A perspectiva que eu tenho na minha cabeça é assinar o potencial construtivo no meio do ano e iniciar as obras em dezembro. Nos esportes estamos evoluindo muito, conseguimos um patrocínio importante para o futsal. É uma retomada importante, assim como foi o basquete, e eu tenho gratidão ao Ortega e ao Gegê por eles. O paralímpico tem um suporte de investimento a partir da Lívia, já não precisamos tirar dinheiro do próprio bolso. As certidões prontas facilitam tudo com os projetos incentivados. O associativo não tem interferência em nada.

Relação com a 777 após ação

– O sócio pode agir do jeito que quiser comigo. Só quero que ele respeite o Vasco, não tem nada a ver com a questão judicial. Ele respeitando o Vasco é o que importa para mim. Se ele vai virar a cara para mim é um problema dele, quero que ele respeite e se identifique com o clube. Não precisa nascer aqui, temos vários exemplos, o Juninho Pernambucano é um deles, não foi criado aqui e se identifica com o Vasco. Se ele não me respeita não tem problema nenhum.

Vice-presidente jurídico Felipe Carregal:

– Essa ação foi fruto de um amplo debate de toda diretoria administrativa. Foi uma discussão profunda. Em determinado momento fomos obrigados a tomar essa decisão. Quero ressaltar que as mesmas pessoas que estão criticando o presidente hoje iriam cobrar o Pedrinho em setembro, se o dinheiro da 777 não entrasse. Vocês podemos nos cobrar por ações e decisões. Faz parte. Ninguém vai se omitir. Mas por omissão não. A partir do momento que o presidente se coloca à disposição para ser presidente e abre mão de seus projetos pessoais… Poucas pessoas teriam a capacidade de tomar uma decisão como essa que o presidente tomou. A decisão final foi do presidente. O Pedrinho é o líder necessário e ideal para esse momento. Nada é por acaso. Queria deixar claro que essa narrativa de que foi premeditado, que queríamos o caos, não procede. Obviamente todos nós sabíamos da situação da 777 no mundo.

– Eu trouxe uma matéria que saiu no ge em 23 de novembro de 2023 dizendo que a 777 omitiu prejuízo de R$ 3 bilhões na compra do Everton. Vocês acham que a gente ia ignorar uma matéria como essa que saiu no ge? É óbvio que entramos com cautela. Sabíamos que teríamos que monitorar e poderíamos ter um problema. Seria uma loucura nossa não acompanhar a situação da 777 no mundo. Ligamos o alerta. Tudo isso nos fez pensar de forma cautelosa. Mas não foi nada premeditado. Eleitos, tentamos por várias vezes interagir de forma mais direta. Na primeira reunião o Josh (Wander) não compareceu. Ele teve uma consulta médica. Não é para ligar o aleta? Tentamos uma segunda conversa aqui no Rio. Eles reconheceram que a relação não era boa. Culparam a imprensa. Nessa conversa tentamos amenizar a relação, e eles não cumpriram a promessa dois dias depois. Nessa conversa eles deram a entender que estariam dispostos a se desfazer do Vasco.

– De forma muito clara. Mais um alerta ligado. Tivemos outro encontro com Josh. Fomos mais diretos e pedimos garantias. O presidente Pedrinho foi eleito para fiscalizar. Uma coisa normal. Essa garantia foi negada. Disseram que o contrato não previa essas garantias. E caso eles não pagassem, a gente ficaria com as ações. As notícias pioraram, notícias de crime. Notificamos a 777 outra vez e pedimos esclarecimentos. Disseram que era tudo mentira e não poderiam se aprofundar. Se acontecer a falência da 777, as ações da Vasco SAF seriam atingidas diretamente por esse colapso. Quais seriam as consequências disso? Não tenho como avaliar. Resolvemos correr o risco hoje. Em setembro seríamos cobrados. Seremos cobrados por ações, mas jamais por omissões.

– É nossa obrigação como vascaínos zelar pelo nosso patrimônio. O fundamento dessa ação não é só o colapso financeiro da 777, isto é importante, mas existem descumprimentos contratuais. Existem outras obrigações, não vou entrar neste mérito, porque está em segredo de justiça. Tivemos problemas no aporte, o mais grave, que nos chamou atenção na transição, foi no primeiro aporte. Dias depois, a 777 obrigou a SAF a devolver o dinheiro para uma empresa do grupo. Isso é gravíssimo, e hoje só reforça o que está nos jornais. O que a Vasco SAF tem a ver com qualquer outra empresa da 777? Até hoje este empréstimo não foi integralmente pago. É fácil de fora jogar pedra, sabemos de todas as consequências, ponderamos elas, mas fomos obrigados a entrar com a ação. Nada foi premeditado. A gente antes pediu uma garantiu e fomos ignorados.

– Os contratos feitos com a SAF estão valendo, não existe interferência no que está em vigência na SAF. A SAF tem um CNPJ e gestão independentes. O CEO, responsável pela operação e pelo futebol, permanece. Isso não é anormal, sócios se estranham, brigam. A vida vai continuar normal, sem nenhum impacto operacional. Vamos ver a situação financeira da SAF. Avaliamos a insegurança jurídica, mas minha pergunta é: “Qual é a insegurança jurídica que a 777 está causando na operação da Vasco SAF e no Vasco?”. Querendo ou não, hoje 777 e Vasco estão abraçados e, se a imagem da 777 está manchada, a do Vasco é atingida.

Vice-presidente geral Paulo Salomão:

– Vou fazer um histórico para que vocês possam ter uma contextualização. Quando entramos na gestão, uma das maiores críticas do sócio do Vasco é o sigilo do contrato. É uma questão comercial. Mas que na nossa cabeça, quando mais transparente esse contrato, muito melhor. Analisamos o contrato. Fizemos uma análise profunda desse contrato. Foram constatados diversos descumprimentos por parte da 777. Importante não confundir o controlador (777) com a Vasco SAF. São empresas diferentes. O que discutimos é a relação entre os sócios majoritários e minoritários. O futebol não vai voltar para o Vasco associativo.

– Um dia acordamos com São Januário interditado por problema de marquise, com risco aos torcedores. Apresentamos notificações para a 777. Eles estavam descumprindo diversas questões do contrato, como a estrutura do CT, por exemplo. Temos o direito de fiscalizar. Diversos veículos internacionais mostraram que a empresa (777) estava indo para o colapso. Fizemos uma due diligence nos Estados Unidos muito sólida, que mostra que a 777 e seus sócios….É de assustar a situação financeira deles. São diversas ações judiciais, um relatório de passivo absurdo, inúmeros processos por fraudes. O que nos gerou ainda mais preocupação e medo de que a situação chegasse ao Vasco. Tem aspas do Josh gravadas de que a 777 não tem mais o controle da empresa. Isso gera uma violação explícita da lei da SAF.

– Notificamos, e eles deram uma resposta vazia. Há um artigo da lei que diz que, quando há risco financeiro, há possibilidade de se pedir garantias. Soubemos que havia risco de penhora das ações. Pedimos diversas vezes acesso às informações, pedimos acesso ao contrato com a nova patrocinadora, a Betfair, na qualidade de membros do conselho de administração, e não passaram. Não temos noção dos termos do contrato. Importante para entender a maneira abusiva que o sócio majoritário atuava perante o sócio minoritário.

Fonte: ge

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