Vascaína relata caso em São Januário e botafoguense, no Nilton Santos. Torcedoras estão se organizando em coletivos para cobrar atitudes, e clubes dizem estar firmando parcerias para resolver o problema
Por Fernanda Graell, RJ1 — Rio de Janeiro.
Torcedoras denunciaram casos de abuso dentro dos estádios de futebol do Rio. Elas têm formado movimentos para combater o problema, mas cobram mais atitudes de clubes e entidades ligadas ao futebol para denunciar e punir os assediadores.
Um dos casos de assédio aconteceu na semana passada, no jogo entre Vasco e Coritiba, pelo brasileirão em São Januário. A goleada de 5 a 1 e o reencontro entre o time e torcida não foram bem como a torcedora esperava.
– Eu estava andando, mexendo no telefone e tinha um homem vindo na direção oposta. Quando ele chega perto de mim, ele empurra o corpo dele contra o meu, contra a parede. E passa a mão no meu corpo. E aí, ali eu perdi a reação, eu fiquei travada, não sabia o que fazer – contou.
– Uma das minhas falas no momento que aconteceu foi: ‘Eu fui assediada em casa’. Eu estou no meu estádio, eu passei por isso no meu estádio – acrescentou.
– Quando eu consegui reagir, eu olhei e falei que ele era nojento, chamei ele de nojento. Porque foi uma situação nojenta. Eu me senti, não sei, impotente, porque não conseguir fazer nada e ter passado por aquilo – disse a torcedora.
– Quando eu consegui reagir, eu olhei e falei que ele era nojento, chamei ele de nojento. Porque foi uma situação nojenta. Eu me senti, não sei, impotente, porque não conseguir fazer nada e ter passado por aquilo – disse a torcedora.
Nilton Santos
A torcedora do Botafogo Laís Dalla também conta que sofreu um caso de assédio, desta vez no estádio do clube alvinegro.
– O jogo começou e em algum momento eu comecei a sentir uma mão na minha cintura e um corpo encostar. Eu achei que era porque o estádio estava cheio e alguém havia esbarrado, e até aí tudo bem. Só que esse mesmo movimento passou a se repetir mais algumas vezes. Em um determinado momento, esse sujeito chegou no meu ouvido e falou o seguinte: que se o Botafogo fizesse um gol, ele ia dar um beijo na minha boca.
Ela conta que o assédio não parou por aí:
– Até que em um momento ele passou a mão por baixo da minha perna, por trás. Foi quando eu tomei um susto e pulei do banco, em direção aos meus amigos, e falei o que estava acontecendo.
União contra o assédio
Por conta dos casos de assédio dentro dos estádios, grupos de torcedoras se uniram e levantaram a bandeira do combate à violência contra a mulher no futebol.
O coletivo “Vascaínas contra o assédio” distribui panfletos e adesivos para tentar combater os abusos dentro e fora dos estádios. Mas elas querem mais.
– Falta muito apoio. A gente precisa, porque a gente não aguenta mais. Acho que não há mais tempo a perder, a gente não merece mais isso, não merece mais ouvir esses casos, não merece mais ouvir mulheres falando que só vão vir pro estádio com amigos, com homens, maridos e namorados, pra poderem se sentir mais protegidas”, diz Carina Schulte, representante do coletivo.
O que os clubes estão fazendo
Dois clubes cariocas firmaram parcerias para combater essas situações. O Botafogo instalou um posto dentro do Engenhão para receber as denúncias de assédio, uma parceria com a Secretaria Municipal da Mulher.
O Vasco procurou a Polícia Civil e, desde março, o estádio de São Januário conta com policiais mulheres, em dias de jogos, para registrar as ocorrências de crimes relacionados a gênero.
– Já participamos da capacitação de equipes da segurança tanto de São Januário quanto do Estádio Nilton Santos, e há policiais da Deam nos Juizados dos Torcedores nesses estádios, exclusivamente pro atendimento de mulheres que forem vítimas de qualquer tipo de violência, seja física, moral, pessoal tanto dentro quanto fora dos estádios – explica a delegada Bárbara Lomba.
Uma lei de 2020 diz que os estádios devem realizar campanhas educativas e não discriminatórias de enfrentamento ao assédio e violência sexual; e também devem manter a formação permanente de funcionários e prestadores sobre o tema.
– É um absurdo. Eu não tenho espaço, não tenho liberdade, não posso andar no espaço que eu gosto, sem ter medo de ser tocada, ser violada. É absurdo – lamenta a torcedora vascaína que foi assediada.
O programa RJ1 cobrou posições do Flamengo e Fluminense sobre o tema. O Fluminense disse que está firmando uma parceria com a Prefeitura do Rio para criar campanhas de conscientização e incluir equipes especializadas dentro do Maracanã. O Flamengo, que também administra o Maracanã, ainda não enviou uma resposta.
O jornalista Edimilson Ávila afirmou que no dia 21 ocorrerá uma reunião da PM com o Maracanã para debater como ampliar o atendimento para as mulheres. Entre as medidas debatidas, está a criação de uma sala de acolhimento para vítimas de assédio com agentes treinadas para isso.
Nesta quarta (27), na partida entre Fluminense e Internacional pela Libertadores, o atendimento para eventuais vítimas de assédio será feito no Juizado do torcedor, na base do Portão 3 do Maracanã.
Fonte: ge