Perdi meu filho Rafael em 2010, aos 21 anos, para um câncer. Era torcedor do Flamengo. Recebeu duas homenagens que jamais esquecerei. Uma de seu próprio clube, que lhe rendeu a um minuto de silêncio no jogo em que venceu o Guarani por 2 a 1 no Engenhão, dia 20 de novembro. A outra de um torcedor do Vasco. Meu primo Manoel Noutel é vascaíno 24 horas por dia, apaixonado, frequentador de arquibancada, sabe o que é rivalidade, e respeita o tamanho do rival. Pois nesse mesmo dia 20, foi ao enterro do Rafa vestindo a camisa do Flamengo. Portanto, homenagens e grandeza do Gigante da Colina, para mim, não são nenhuma novidade.
O desprendimento e a solidariedade da instituição com a dor do Flamengo na perda dos dez mártires do Ninho foi quase que totalmente dissecada pela mídia na última semana, em especial o fato de o Vasco usar um uniforme em campo que tinha uma bandeirinha rubro-negra. Não haveria muito mais a dizer sobre o tema. Mas não consegui ficar em silêncio ao ler que um grupo político, daqueles que serviu do clube e o sugou durante décadas, pensa em tomar atitudes contrárias a essa homenagem ao rival, que, repito, só engrandeceu ainda mais o Vasco – como se isso fosse possível.
Pior: li alguns jornalistas, que não respeitam a promessa de isenção e ética que fizeram ao se formar (será que se formaram?), que agem como se fossem torcedores e protestam nas redes sociais por uma simples hashtag, a “#forçaflamengo”. Alegam que seria como se “algum motorista embriagado atropelasse pessoas e recebesse como apoio um “#forçamotorista”.
O que essa gente de cérebro atrofiado não entende é que o Flamengo não é o seu presidente, ou seu ex-presidente. O Flamengo não é um vice-presidente qualquer que não tomou conta dos meninos do clube como deveria. O Flamengo é sua torcida, sua camisa, sua história, as centenas de milhares de pessoas do bem que integram sua comunidade. O Flamengo é, como o Vasco, uma pujança no esporte mundial. Portanto, o Flamengo está de luto, o Flamengo sente a dor das perdas humanas, o Flamengo é, sim, digno de ser abraçado e reerguido.
O Vasco entendeu isso, e não me surpreendeu.
O problema dessa gente, que quer o Vasco bem isolado de tudo para poder sujar as mãos mais à vontade, e os “jornalistas” que confundem cobrança de responsabilidade com instinto de destruição alheia, é o que minha mãe sempre me ensinava: para ter grandeza de espírito é preciso ser grande. Como o Vasco sempre foi, em vitórias como a que tive o privilégio de comentar há dois anos (abaixo).

Melhores momentos: Vitória 1 x 4 Vasco pela 13ª rodada do Brasileirão 2017
Obrigado, Manoel. Parabéns, Vascão, Vascaço da Colina!
Fonte: Entre as canetas – Sportv