Vai terminar neste domingo, no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, embora um tanto esvaziada, em especial pelas torcidas dos clubes que não alcançaram a final e que têm repetido que ela não vale nada, a Taça Rio, o segundo turno do Campeonato do Estado do Rio. Verdade que, ao contrário do que vinha ocorrendo até 2013, ela não vai garantir vaga direta na final, e os quatro semifinalistas do Estadual já estão definidos – Fluminense x Vasco; Flamengo x Botafogo, com os dois primeiros jogando pelo empate. Mas daqui a 10 ou 20 anos, o Botafogo ou o Vasco terá um grande orgulho em poder exibir a Taça Rio 2017 em seu salão de troféus. Afinal, taça é taça, e qualquer que seja, sempre dá para gritar é campeão.
Finalista neste ano, o Vasco é o maior vencedor da Taça Rio, com nove conquistas. Seguido por Flamengo (oito) e Botafogo (sete). Curiosamente, o time de São Januário não conquista o título desde 2004, quando bateu o Flumienense na decisão.
Criada em 1982, a Taça Rio teve o América como seu primeiro campeão. Em novembro daquele ano, a equipe rubra conquistava uma de suas últimas glórias no futebol: exatamente a primeira edição do troféu, ao vencer o Fluminense por 4 a 2, no Maracanã. Não se tratava de uma decisão, mas de uma competição por pontos corridos. Na sequência do Estadual, no triangular final (o Flamengo também participou), o título ficou com o Vasco.
Aquele 1982 fora mesmo positivo para o América. Em junho, ao vencer duelo com o Guarani, iria celebrar o maior título de sua história. No Torneio Campeão dos Campeões do Brasil, houve final foi em dois jogos, um em Campinas e o outro no Maracanã. Houve empate de 1 a 1 no interior paulista, e no Rio o América venceu por 2 a 1.
A Taça Rio de 1982 foi a primeira vez que o returno do campeonato passou a ter esse nome, de acordo com os registros da Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj), embora o segundo turno do Estadual de 1978 tenha se chamado Taça Rio de Janeiro. Porém, a atual “Taça Rio” (somente “Rio”) não tem ligação com a de 1978, erguida pelo Flamengo. Tanto assim que o troféu de 2016 veio com a inscrição de 34ª Taça Rio.
Até 1982, o segundo turno levava sempre o nome de algum desportista importante, que havia morrido recenmentena. De lá para cá, só não houve disputa da taça em 1994 e 95.
O status de campeão desse troféu não é igual ao da Taça Guanabara porque quem vence o primeiro turno tem o segundo turno inteiro para festejar e brincar com os rivais, ao passo que quando a Taça Rio termina, logo começa a decisão do Estadual propriamente dito. Nas edições de 2014 e 2015 do Carioca, em função do calendário modificado pela Copa do Mundo de 2014, foi disputada como um torneio paralelo entre os clubes considerados “pequenos” (sem envolver Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco).
Em 2016, foi realizado como um torneio dos clubes não classificados para a Taça Guanabara, sendo também o grupo de descenso do Campeonato Carioca. Neste ano, a Taça Rio volta a ser um dos turnos do Carioca, assim como a Taça Guanabara, mas agora, classificando o campeão de cada turno às semifinais.
O troféu destinado ao campeão do Estadual será denominado “Carlos Alberto Torres – Capitão do Tri”. Falecido em outubro do ano passado, o Capita tinha ligações com os finalistas da Taça Rio. Afinal, defendeu o Botafogo em 1971 e viu um de seus filhos, o ex-zagueiro Alexandre Torres, ser tricampeão carioca, campeão brasileiro e da Mercosul pelo Vasco entre 1991 e 1994 e entre 2000 e 2001.
Alvinegros e vascaínos são os protagonistas do clássico mais curioso e mais marcado por superstições em todo o país. Para começar, a diferença de vitórias a favor do time de São Januário foge à normalidade nos confrontos entre grandes.
Em um total de 330 jogos desde 1923, foram 142 triunfos vascaínos, 88 alvinegros e 100 empates. Quando o assunto é decisão, porém, a roda da fortuna parece girar ao contrário. Diante do rival, o clube de General Severiano foi campeão carioca em 1948, 1968, 1990 e 1997, além de ter ganho também as Taças Guanabara de 1997, 2010 e 2013, a Taça Rio de 2012 e o Torneio Início de 1977. Já os vascaínos ergueram as Taças Guanabara de 1965 e 1977, os Torneios Inícios de 1932 e 1945, e mais recentemente, os Estaduais de 2015 e 2016.
Não bastasse o fato de ambos terem as cores preta e branca, Vasco e Botafogo são conhecidos pelo bom relacionamento entre suas torcidas. No antigo Maracanã, nos jogos dos anos 60 e 70, era comum um desfile de bandeiras dos dois times ao redor do anel da arquibancada, mesmo do lado da torcida oposta, com os adeptos de ambos os times aplaudindo e cantando: “Vascão! Fogão! Torcida de irmão!”. Mesmo em partidas decisivas, a rivalidade costuma se restringir ao campo, e as torcidas não costumam brigar, algo muito raro entre grandes forças de uma mesma cidade.
Tudo isso compõe o chamado Clássico da Amizade. Mas amigos, amigos, troféus à parte.
Campeões da Taça Rio, ano a ano
2016 – Volta Redonda
2015 – Madureira
2014 – Boavista
2013 – Botafogo
2012 – Botafogo
2011 – Flamengo
2010 – Botafogo
2009 – Flamengo
2008 – Botafogo
2007 – Botafogo
2006 – Madureira
2005 – Fluminense
2004 – Vasco
2003 – Vasco
2002 – Americano
2001 – Vasco
2000 – Flamengo
1999 – Vasco
1998 – Vasco
1997 – Botafogo
1996 – Flamengo
1994 e 1995 – Não houve
1993 – Vasco
1992 – Vasco
1991 – Flamengo
1990 – Fluminense
1989 – Botafogo
1988 – Vasco
1987 – Bangu
1985 – Flamengo
1985 – Flamengo
1984 – Vasco
1983 – Flamengo
1982 – América
Resumo
Vasco: nove títulos
Flamengo: oito
Botafogo: sete
Fluminense e Madureira: dois
América, Americano e Bangu: um
* Cláudio Nogueira é jornalista do SporTV e autor dos livros “Futebol Brasil Memória – De Oscar Cox a Leônidas da Silva”, “Os dez mais do Vasco da Gama” e “Vamos todos cantar de coração: os 100 anos do futebol no Vasco da Gama” (e-book)
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Fonte: Blog Memória E.C. – GE