Em tempos de reforma da Previdência Social para conter o imenso rombo instalado nas finanças do país – da ordem, segundo o Governo, de R$ 450 bilhões – e discurso de aperto geral para o trabalhador brasileiro quanto às novas regras para aposentadoria, há uma parte que cabe nesse latifúndio causada justamente pela inadimplência daqueles responsáveis por uma das maiores paixões desse povo. Se os clubes de futebol procuram levar mais alegria no dia a dia dos contribuintes e suas famílias, esse custo-benefício anda doendo, e muito, no bolso. Nesta terça-feira, o “Redação SporTV”, em matéria exclusiva do repórter Fred Justo, divulgou a extensa lista de devedores à União. Segundo levantamento da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, eles juntos acumulam débito de quase R$ 800 milhões. E o Flamengo, clube de maior torcida e apelo popular, aparece justamente como o maior vilão: o Rubro-Negro, hoje, tem uma dívida ativa astronômica de R$ 83.863.163,36 a ser quitada.
Em segundo lugar, aparece o Atlético Mineiro, outro clube de apelo popular, com o valor polpudo de R$ 54.950.505,96. Ao olhar a lista com cuidado, percebe-se também que o Rio de Janeiro representa uma parte considerável dessa dívida com a Previdência. Além do Flamengo, os outros três grandes clubes figuram entre os cinco maiores vilões. O Fluminense é o terceiro, com R$ 49.785.558,38. Em quarto, vem o Botafogo, com R$ 45.667.430,02, seguido do Vasco da Gama, com R$ 41.757.794,41. Ou seja: dos cinco maiores devedores, quatro são cariocas. Depois aparece outro gigante em popularidade: o Corinthians, clube da segunda maior torcida do país, é o sexto, com 41.722.323,04.
O segundo estado que mais aparece na dívida ativa dos clubes com a Previdência Social é São Paulo. Além do Corinthians, a Portuguesa, da capital, clube que ao longo dos anos perdeu sua força devido á grave crise financeira nas suas contas, é o sétimo colocado, com R$ 37.356.576,16. O oitavo é o Guarani, clube de Campinas que já foi campeão brasileiro, em 1978, e esteve há pouco tempo ameaçado de fechar suas portas, com R$ 34.474615,54. Completa a lista dos 10 maiores devedores o baiano Vitória, com R$ 16.878.668,78.
Aumentando o bloco para os 20 maiores devedores, encabeça a lista o Palmeiras, em 11º lugar, com R$ 16.421.989,84. Aliás, outro gigante do estado, o Santos, figura no grupo, ocupando a 18ª posição, com R$ 10.017.209,84. Surge também o outro grande de Minas, o Cruzeiro, na 14ª posição, com a dívida de R$ 12.817.265,22. E do Paraná, o Coritiba, em 12º, com o débito de R$ 15.154.293,24. Duplas de Pernambuco, com Santa Cruz (13º) e Sport (19º), do Pará, com- Paysandu (15º) e Remo (16º) e de Goiás, com Goiás (17º) e Vila Nova (20º), completam os 20 maiores.
“Discussão apaixonada”
Os clubes alegam sempre que as dívidas se acumularam ao longo do tempo, de outras administrações. Aderiram ao Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, o conhecido Profut, para fazer o parcelamento da dívida, mas só vão começar a pagar a partir do ano que vem. Se não pagarem, não conseguirão a certidão, a CND, e com isso correm o risco até de rebaixamento, caso seja cumprida a lei. O governo sabe que dos R$ 800 milhões não deverá receber nem a metade dos clubes.. Segundo Anelize Almeida, diretora do Departamento de Dívida Ativa da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), a paixão atrapalha muito.
– A discussão com clube de futebol é sempre apaixonada. Vejo que há uma fragilidade na administração do clube, é muito pouco profissional, a discussão é sempre do ponto de vista do torcedor, e nós estamos falando de empresas, Previdência. Saber que tem clube já falando em Profut 2 me dá uma descrença na humanidade. O que posso dizer, do ponto de vista da procuradoria, é que ela é absolutamente contra uma renegociação de dívida que sequer começou a ser paga. Paga o que você deve e depois a gente discute o resto. O que acontece é que tá sempre enrolando e jogando a dívida pra frente – afirmou Anelize.
Segundo Lásaro Candido da Cunha, diretor jurídico do Atlético Mineiro, especialista em Direito Previdenciário, esse modelo de Profut está fadado ao insucesso.
– O teste de fogo vai ser quando os descontos encerrarem. Por 24 meses os clubes pagam parcelas de 50 por cento do que pagariam. Depois de dois anos, o desconto reduz para 25 por cento. E depois de mais um ano reduz para 10. Quando chegar à parcela cheia do Profut, talvez a maioria dos clubes não vai sustentar esse pagamento. Aí vamos provavelmente falar sobre um Profut 2.
Fonte: Redação Sportv