Em encontro recente da Globo com dirigentes de clubes, houve uma saia justa entre o presidente do Vasco, Eurico Miranda, e o herdeiro da família dona da Globo, Roberto Marinho Neto, que é o principal executivo da área de esportes da emissora. O dirigente vascaíno interpelou o executivo sobre o tratamento dado ao Estadual do Rio, e recebeu uma resposta dura.
A Globo decidiu promover uma reunião institucional com os dirigentes de 21 clubes que assinaram o novo contrato do Brasileiro para a partir de 2019. A ideia era apresentar formalmente a nova divisão de cotas de tv, mais igualitária para a TV Aberta e a TV Fechada. Agora, serão 40% igualmente, 30% por posição, e 30% por audiência.
No evento, Roberto Marinho Neto dava uma palestra sobre as estratégias da emissora quando foi interrompido por Eurico Miranda. O presidente do Vasco reclamou de críticas feitas em canais da emissora a campeonatos comprados pela própria Globo. Sua referência era especificamente ao tratamento dado ao Estadual do Rio. Em sua intervenção, o vascaíno disse que toda hora que liga os canais ouve comentários negativos.
Em sua resposta, Roberto Marinho Neto primeiro perguntou a Eurico se ele estava sugerindo que se censurasse os jornalistas da Globo. Depois, o executivo afirmou que não haveria censura porque a origem da empresa é em um jornal, e que não abriria mão dos princípios jornalísticos da emissora. Marinho Neto ainda argumentou que a Globo valoriza, sim, os campeonatos que compra e transmite.
De novo com a palava, Eurico disse que, sob o ponto de vista do Vasco, a emissora continuava pagando as cotas então o clube não era prejudicado por denegrirem o campeonato. Ao blog, o dirigente contou ainda que o executivo da Globo perguntou o que ele faria caso um jogador criticasse o clube. ”Se o jogador do Vasco faz isso, vai embora na hora”, retrucou Eurico.
O executivo da Globo ratificou então o que dissera anteriormente. A cena foi vista como constrangedora por dirigentes presentes, mas o embate não teve tom agressivo.
Roberto Marinho Neto foi alçado ao comando da área de esportes da Globo em outubro do ano passado. Na ocasião, uma reformulação estabeleceu que os departamentos de compra de direitos de competições esportivas e o jornalismo esportivo ficariam sob o mesmo guarda-chuvas. Assim, o conteúdo de esporte deixou de fazer parte do setor de jornalismo em geral da empresa.
Eurico tem um histórico de embates com a Globo. Em janeiro de 2001, colocou o símbolo do SBT na camisa do Vasco na final do Campeonato Brasileiro do ano anterior. Era uma retaliação a programas jornalísticos que revelavam irregularidades na gestão do dirigente no Vasco – várias dessas denúncias foram incluídas na CPI do Futebol, no Senado.
O blog ouviu Eurico Miranda que confirmou o episódio e deu algumas explicações sobre sua posição. ”Só queria que me explicassem por que eu entendo pouco de marketing. Queria saber como se compra um produto e vão vender ele esculhambando. Me explicaram e está tudo certo”, afirmou o dirigente vascaíno. E acrescentou com ironia: ”Queria entender essa técnica de marketing nova de vender o produto dizendo que é uma merda.”
O blog observou ao dirigente vascaíno que havia uma diferença entre o departamento de marketing e de jornalismo em uma empresa de comunicação. Eurico disse que não questionava a liberdade de imprensa, e que respeitava o direito de crítica.
”Você, por exemplo, não pode criticar a instituição Vasco que não entra no clube. Eu represento a instituição Vasco”, disse ele. O blog perguntou então se não tinha direito de critica-lo. ”Você pode me criticar quanto quiser porque estou nisso há muito tempo e dou pouca importância. Só não pode me chamar de homossexual, ladrão ou corno. Porque aí vai ter problemas.”
Por fim, Eurico observou que entende que os resultados ruins de público do Estadual no final de semana (semifinais da Taça Rio) foram por conta da forma como foi conduzida a promoção dos jogos.
Fonte: Blog do Rodrigo Mattos – UOL