Com mobilização de vascaínos, nasce o maior estádio da América do Sul

A maioria dos vascaínos enche a boca e fala com propriedade que São Januário é a sua casa, e não é por menos. Levando em conta que alguns clubes tiveram ajuda do poder público para construir seus estádios, o Vasco ergueu a Colina Histórica com os próprios recursos em uma grande mobilização popular envolvendo seus torcedores, sócios e dirigentes. Este capítulo da série especial dos 90 anos do templo cruz-maltino, comemorado no próximo dia 21, conta como foi a campanha do clube para arrecadar a verba e a construção do, na época, maior estádio da América do Sul. Uma demonstração de força e resposta ao preconceito.

Após ser campeão da Liga Metropolitana invicto em 1924, com a torcida crescendo cada vez mais e lotando os estádios, o Vasco volta a receber novo convite para se filiar à Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (Amea), em 1925. Desta vez, sem nenhuma restrição. Porém, o clube ainda era menosprezado por não ter um estádio próprio e o processo para construção da sua casa começou a ganhar corpo com uma campanha popular para arrecadar recursos.

Isso resultou na compra de um terreno de 65.445 m² no bairro São Cristóvão, que foi adquirido em definitivo no dia 28 de março de 1925. O lugar, conhecido como ‘Chacrinha do Imperador’, pertencia à Sociedade Anonyma Lameiro e tinha a rua São Januário como uma de suas principais vias de acesso.

Com o local para o estádio, o Vasco intensificou a mobilização para arrecadar a verba para a construção, que saiu a doação e do suor dos cruz-maltinos. Entre as ações, uma que ficou muito conhecida foi a ‘Campanha dos 10 mil’, que visava aumentar o número de associados. Sócios e torcedores de todas as classes contribuíram para levantar o dinheiro e viabilizar as obras.

– O Vasco tomou algumas atitudes para poder levantar recursos, uma delas foi a de debêntures no mercado, ou seja, o sujeito comprava o título e depois receberia o valor com juros. A outra questão era pleitear o aumento do número de sócios. A famosa ‘Campanha dos 10 mil’, na verdade era para alcançar 10 mil sócios. Em 1927, na época da inauguração do estádio, o Vasco ultrapassa o Fluminense e se torna o clube da capital federal com o maior número de associados. Fora as doações esporádicas. É óbvio que o Vasco recebeu doações de sócios mais abastados. Mas as duas grandes políticas eram a emissão de debêntures e convocar a colônia portuguesa e quem se sentia ao lado do Vasco. A base dessa campanha foram pessoas de camadas mais populares, donos de botequins, não foram somente os comerciantes que tinham dinheiro. Tinham também os sócios mais humildes, que deram o pouco que tinham, mas deram e contribuíram para a construção do estádio – explicou Walmer Peres, historiador do Centro de Memória do Vasco.

No dia 06 de junho de 1926, o clube faz o lançamento da pedra fundamental do estádio e começa as obras com seus próprios recursos, sem ajuda do governo, que ainda dificulta a construção. O então presidente Washington Luiz negou o pedido do Cruz-Maltino de importação de cimento da Bélgica, algo que já tinha sido concedido para obras de outras praças esportivas no país. Assim, foi preciso gastar mais material para erguer São Januário.

– O Vasco vai fazer a solicitação da importação de cimento belga, que era de melhor qualidade e para ‘surpresa’, ela é negada. O que já havia aceito para outras obras no país, foi negado para o Vasco. Assim, o clube teve que utilizar muito mais cimento, areia e pedra para poder reforçar a obra e construir esse gigante de concreto que é São Januário – contou Walmer Peres.

A construção aconteceu em ritmo acelerado. Em um período de menos de 10 meses desde o lançamento da pedra fundamental, o Vasco dá ao Brasil o maior estádio da América do Sul, no dia 21 de abril de 1927. A capacidade inicial era de 30 mil torcedores, contando só a social e a reta da arquibancada (a curva unindo os dois setores só foi feita depois da inauguração).

São Januário foi o maior da América do Sul até 1930, quando foi construído o Centenário, em Montevidéu, no Uruguai; o maior do Brasil até 1940, com a inauguração do Pacaembu, em São Paulo; e o maior do Rio de Janeiro até 1950, com a abertura do Maracanã. Segundo Walmer Peres, o diferencial é que destes, o único que não tem dinheiro público é a Colina Histórica.

Construção virou opção de lazer para os vascaínos

A casa feita com as doações dos cruz-maltinos dava tanto orgulho que virou atividade de lazer antes mesmo da inauguração. Walmer Peres conta que alguns sócios se reuniam em um morro perto do estádio para fazer piquenique e acompanhar a construção.

– Uma curiosidade na construção é que não existia a Barreira do Vasco na época, era uma colina, um morro. Os associados do Vasco se reuniam ali para acompanharem as obras do estádio. Era então uma forma de lazer. Nos fins de semana eles faziam um piquenique ali e acompanhavam a construção. É uma das histórias que se contam aqui, os mais antigos – revela o historiador.

A série especial sobre os 90 anos de São Januário vai até o dia 21 de abril. Nesta quarta-feira, um novo capítulo contra sobre a inauguração, o primeiro jogo, o primeiro gol e a primeira partida com iluminação, que teve até um gol olímpico.

Fonte: LANCENET!

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