“Dívida” no Vasco, Gabriel e Conca: o novo Muriqui conta sua história

Muriqui está de volta para casa. Não para Muriqui, o distrito em Mangaratiba onde nasceu, foi criado e que carrega como substantivo próprio. Mas para o Vasco. Reforço do Cruz-Maltino, o atacante chegou disposto a provar que tem muito pouco a ver com o garoto que viveu momentos promissores, mas sucumbiu às lesões e tentações entre 2004 e 2005. Pai de Gabriel, casado com Aline, o atacante quer escrever nova história em São Januário.

– Minha carreira poderia ter tomado um rumo diferente se eu tivesse feito as coisas corretas, me cuidado mais, deixado de fazer algumas coisas. Fui levado pela empolgação. Se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, minha carreira teria sido completamente diferente. Tenho a oportunidade de pagar essa dívida. O Vasco me ajudou muito: o doutor Eurico Miranda, o falecido Pedro Valente, o Alex Evangelista. Consegui voltar para um grande clube e tenho a oportunidade de fazer uma história diferente do que foi a primeira vez – disse o jogador.

Muriqui ficou seis anos fora do Brasil. Brilhou pelo Guangzhou Evergrande, da China, passou pelo Al Sadd, do Catar, e pelo FC Tokyo, do Japão. Mas, no fim de 2016, quando retornou à terra natal para tratar de uma lesão, não resistiu. Ver o filho Gabriel, de três anos, falar tudo que não falava no exterior, o motivou; o chamado do Vasco o seduziu.

Nesta entrevista, ele conta suas aventuras pela Ásia, projeta o reencontro com o amigo Conca, agora no Flamengo, e passa a limpo sua história.

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Motivos para voltar

Minha experiência na Ásia foi bacana. Cresci muito como homem. Amadureci muito, porque você vai para outro país, para outra cultura e você tem que se adaptar, aprender costumes, língua. Querendo ou não, te força a sair da zona de conforto. Chegou o momento de voltar. Foi um ciclo muito bacana para mim, mas meu coração pedia para continuar aqui. O coração pedia para voltar. Aconteceu um probleminha nessa estadia no Brasil, ocorreu que logo em seguida apareceu a situação do Vasco. Pensei: é o momento de permanecer.

Gabriel

Gabriel praticamente viveu a vida fora do país. Minha mãe, meu pai e minha sogra pouco tiveram contato com ele. Sentiam falta. Falavam pela internet, mas não é aquela coisa do contato. Sem falar que ele é uma criança que teve um pouco de dificuldade para falar. Em dois meses (no Brasil), ele aprendeu a falar bastante coisa. Juntou essa vontade de estar mais próximo da minha família e essa situação dele, de ele poder alfabetizar no Brasil, que acho que vai ser importante para ele.

Com a idade, você vai amadurecendo. Quando surgi no futebol profissional, tinha 17 anos. Quando você é jovem, tem tendência a ficar disperso. Foi isso que aconteceu comigo. Comecei a jogar no Vasco, a me destacar um pouquinho. Querendo ou não, as coisas começam a mudar. As situações ficam mais fáceis para você, você fica mais bonito, consegue as coisas com mais facilidade. Me perdi um pouco nessa situação, confesso que não me fez bem. Acho que minhas lesões aconteceram por descuido meu fora de campo. Agora me encontro totalmente diferente, mais maduro, um cara que sabe o que quer.

Melhor que Conca na China?

Não. Nunca disputei com o Conca. Pelo contrário, ele me ajudou muito. Não podemos criar uma rivalidade onde não tem. Somos amigos, nesses dias falei com ele e disse que ia dar um carrinho nele (risos). A gente tem uma relação bacana, se fala direto, creio que vai ser bacana enfrentá-lo. Não tem muita rivalidade. Somos amigos. Agora existe a rivalidade porque é Vasco x Flamengo.

Adaptação na China

Quando fui embora do Atlético-MG, lá tinha acabado de ser eleito o melhor CT do Brasil. Eu fui para a China, e o time era de uma empresa farmacêutica. A gente trocava de roupa e descia andando no meio da rua, as pessoas paravam do lado do campo. Após o treino tinha que levar a roupa para casa para lavar. Eu fui sozinho para a China. Tinha que lavar minha própria roupa, minha chuteira, levar roupa de concentração. Como foi a primeira experiência fora do país, foi um baque.

Convivência com Xavi no Al Sadd

O que mais me chamou a atenção foi a simplicidade dele. Super respeitoso, o primeiro da fila para treinar. O cara ganhou tudo e está puxando fila num lugar onde as pessoas vão para encerrar a carreira. Você vê que o cara quer ganhar, competir. Ele respeitava todo mundo, falava com todo mundo, não é aquele cara vaidoso. Ele sempre dava o exemplo, como capitão do time, como o cara mais respeitado.

Rescisão com o FC Tokyo

Tive essa lesão no joelho e fiquei um bom tempo para me recuperar. Quando estava lá, pedi para tratar no Brasil ou até no Catar. Me deram prazo de quatro a seis semanas, não fiquei bom, depois de seis a oito semanas, comecei a treinar com um pouco de dor, chegou um tempo que eu não estava aguentando mais. Fiquei bastante tempo parado, perdi massa muscular, fiz trabalho de fortalecimento. Ainda tem diferença da minha perna direita para esquerda. O pessoal (do FC Tokyo) me ligou para ver como eu estava, eu disse que não estava 100%, mas que queria ficar no Brasil para voltar zerado. Eles entenderam que eu não deveria fazer isso.

Proposta do Vasco

O Vasco entrou há uma semana. O Anderson (Barros, gerente de futebol) ligou, e me chamou a atenção a forma como ele me abordou. Da forma que ele falou comigo, comecei a balançar. Ele já ligou e no mesmo dia fez a proposta. Pensei: o negócio é sério. Os caras estavam me tratando como prioridade. Conversei com minha família e comecei a amadurecer a ideia de permanecer.

Participação no jogo-treino

Foi legal. Eu estava há quatro meses sem jogar. Isso pesa. Treinei três dias, fiz trabalho de reforço muscular. Foi uma surpresa (ser titular), porque eu vinha participando da equipe reserva, e o Cristóvão perguntou como estava minha condição. Treinei com desenvoltura, joguei 45 minutos bons. Claro que preciso melhorar muito, principalmente na parte física. Mas foi legal para um primeiro jogo.

Fonte: GloboEsporte.com

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