Parado desde o início de novembro após o fim das atividades no Rio Claro, Dedé Barbosa planejava uma viagem de fim de ano com a família quando o celular tocou. Do outro lado estava Fernando Lima, vice-presidente de quadra e salão do Vasco, com uma proposta tentadora, mas ao mesmo tempo desafiante: assumir o comando técnico do time da Colina no meio do NBB 2016/17. Identificado com o Flamengo, clube pelo qual teve três passagens como jogador, o treinador de 39 anos não hesitou em aceitar o convite. Após quase uma semana de trabalho, Dedé já se sente ambientado ao grupo e projeta a vitória em seu primeiro compromisso, na próxima terça-feira, às 19h30, contra o Paulistano, no ginásio Antônio Prado Junior – o SporTV transmite ao vivo. Os dias em São Januário também serviram para o carioca do Grajaú se desligar de vez do passado rubro-negro.
– Tenho o sonho de ganhar bastante e dar tudo o que posso pelo Vasco, e eu sei que a torcida vai entender isso. Agora sou Vasco e acabou – disse Dedé, ganhador do Troféu Ary Vidal (dado ao melhor técnico da temporada) do NBB 2014/15.
Revelado pelo Grajaú Country, Dedé também defendeu as cores de Corinthians, Mogi das Cruzes, Uberlândia e Telemar. Aposentado das quadras desde 2010, o carioca dirigiu o Limeira nos anos de 2014 e 2015, antes de chegar ao Rio Claro, seu último clube. Falante e cultivador do bom ambiente, Dedé traça metas ambiciosas para a carreira de técnico, como trabalhar fora do país e dirigir a seleção. Confira a entrevista:
GloboEsporte.com: Você teve três passagens pelo Flamengo como jogador. Acha que a torcida do Vasco vai te cobrar muito por causa do passado no rival?
Dedé Barbosa: Lógico. É impossível dar as costas ao meu passado, só que quando você dá valor a outras coisas isso acaba ficando relativo. Tenho o sonho de ganhar bastante e dar tudo o que posso pelo Vasco, e eu sei que a torcida vai entender isso. Agora sou Vasco e acabou.
Desde que o Vasco voltou ao basquete foram cinco partidas contra o Flamengo (não levando em consideração o WO da final do Carioca, vencido pelo clube da Gávea), com três vitórias vascaínas e duas rubro-negras. Os times estão no mesmo nível ou Flamengo ainda está acima do Vasco por ser o líder e atual campeão do NBB?
O que eu acho é que Vasco x Flamengo é um campeonato à parte. Quem fala que é um jogo qualquer é porque nunca viveu essa rivalidade. Você só conhece o Flamengo quando ele perde para o Vasco e você só conhece o Vasco quando ele perde para o Flamengo. Sendo assim, não quero conhecer o Vasco. Mas isso é uma coisa que temos que construir. Em termos de time, os dois têm elencos muito bons. Em termos de estrutura, estamos no nosso primeiro ano e eles mais à frente. O Vasco está voltando ao basquete e aqui há muitas pessoas dando sangue e amor pelo clube. Quero construir uma história aqui.
Como viu essa polêmica toda do Estadual envolvendo a falta de ginásios e a marcação de clássicos para o Tijuca com torcida única?
Acho um risco essa coisa de torcida única. É algo que eu votaria totalmente contra se pudesse opinar. Você fica preocupado o que pode acontecer com a vitória de um ou de outro. Temos que rever isso, não sei a política que envolve essa situação, mas espero que isso se resolva o mais rápido possível para vermos clássicos com as duas torcidas.
Se o Vasco chegar às fases finais do NBB e tiver de mandar seus jogos em um ginásio maior que São Januário, onde você gostaria que o seu time jogasse?
O Maracanãzinho tem um passado muito grande, é um local onde todo mundo se sente bem em jogar. Também é um ginásio bem localizado, com acesso a transportes, o que facilita todo mundo. Acho que seria o cenário ideal para partidas de maior apelo.
O que está achando da estrutura do Vasco nesta primeira semana de trabalho?
Muita gente me pergunta sobre isso, qual seria a minha primeira reação ao pisar no Vasco. Digo que foi uma surpresa agradável, é uma coisa que não preciso mentir para ninguém. Estou me sentindo muito confortável, em casa, e os jogadores estão me deixando muito tranquilos, fazendo com que o meu trabalho flua da melhor maneira.
Um dos pilares da volta do Vasco ao basquete foi a reforma do ginásio de São Januário financiada pelos torcedores. Saber dessa página bonita da história do clube é algo que o motiva?
Com certeza. Principalmente porque tudo ficou muito bonito, inclusive o vestiário. Adorei todas as instalações e sei o quanto a torcida do Vasco é apaixonada pelo basquete. Isso tudo me dá motivação para fazer parte de um projeto desse.
Hoje o Vasco ocupa a 11ª colocação no NBB com quatro vitórias e cinco derrotas. Como você explica essa colocação até agora bem abaixo do esperado, já que o time tem um dos elencos mais valiosos do país?
Quando o projeto do Rio Claro acabou eu vi alguns jogos, mas não fiquei totalmente ligado, assistindo às partidas de uma maneira tão fria e analítica. O que sei é que o Vasco tem muitos jogadores experientes e uma margem enorme de crescer. Estamos apenas no começo e vamos procurar chegar no topo da tabela.
O elenco do Vasco no NBB 2016/17 já está fechado? Conversou com a diretoria sobre a chegada de reforços?
O elenco está fechado. Conversei muito com o Fernando (Lima), com a comissão técnica, com o Christiano e com o Ratinho (Bruno Nicolaci, preparador físico). Estamos confiantes no elenco. O grupo está fechado, unido e tenho certeza que vamos subir e encontrar o máximo de vitórias para crescer de produção.
Qual a importância da manutenção do Christiano Pereira (técnico do Vasco até a última rodada) na comissão técnica?
Estou dando graças a Deus por ele ter continuado. Está me ajudando muito. Christiano foi meu técnico nas categorias de base (seleção carioca), então está sendo muito proveitosa a parceria. Sem contar que é um cara que conhece o Vasco como poucos, pois está aqui há muito tempo.
Como é o Dedé no dia a dia com os jogadores?
Para falar a verdade, o relacionamento técnico-jogador é uma das coisas mais importantes. Tem que ter um respeito, uma hierarquia, mas não deve ser algo imposto e sim adquirido. Isso você vai ganhando só com o tempo. Sou um cara que joga franco e honesto com eles, de uma maneira justa e igual. Isso tudo ajuda muito nesse processo.
Falando em seleção, especula-se que o José Neto possa ser o próximo técnico do Brasil. Acha que seria uma escolha justa?
Com certeza. Ele é um técnico que vem despontando pelos últimos resultados, já trabalha na seleção há muito tempo e é um nome cotado para assumir. Não sei o que vai dar na CBB, mas acho que ele vai ter essa oportunidade.
Quais foram as suas maiores referências na função de treinador?
A gente sempre vai aprendendo um pouco com todos. O Edvar Simões é um cara que eu trabalhei no Corinthians e posso dizer que fazia tudo pelo jogador e tinha um respeito e uma liderança de general. O Ary Vidal foi um pai para mim, um cara que sabia muito mexer no banco. Era um gênio. Há outros treinadores que eu não tive contato como o Emanuel Bonfim e o Hélio Rubens. Há vários técnicos da Europa que eu admiro também. Um deles é o italiano Ettore Messina, que está no San Antonio Spurs. Tem também o Gregg Popovic, que sabe muito bem como construir uma equipe, o que é a base de tudo.
Você é técnico há apenas dois anos. Tem alguma meta traçada para a carreira, como chegar à seleção por exemplo?
Tenho as minhas metas sim. Estou na minha terceira temporada como treinador, mas os meus sonhos são grandes. Só que são etapas. A primeira etapa é eu me firmar. Está tudo acontecendo muito rápido, mas tenho certeza que estou pronto para ter aquela pressão de resultados que um time grande de camisa almeja. Tenho que vencer essa etapa se um dia quiser chegar à seleção. Também tenho um sonho de ir embora, trabalhar fora do Brasil. Enfim, espero que tudo aconteça na hora certa.
Fonte: GloboEsporte.com