Eurico, do Vasco, exalta seu estilo: ‘Não mudei nada’

Eurico defende gestão sem executivos

 

Dez ligações depois, Eurico Miranda atendeu o celular disposto, enfim, a conceder a entrevista combinada. Definitivo, foi logo soltando o brado retumbante, marca registrada com a qual intimida os adversários e faz rir a turma de aliados.

– Estou muito velho para traçarem o meu perfil. Meu estilo é esse. Você não me conhece? Pois eu não mudei nada. Não mudei p. nenhuma! Só estou mais velho. Tenho 70 anos. Talvez, não tenha a mesma energia do passado – descreveu.

Não, o presidente do Vasco não mudou. Apesar das baforadas de até seis charutos Cohibas num dia de muito estresse, Eurico mantém o velho fôlego para elevar e manter lá em cima o tom de voz durante vinte e poucos minutos de entrevista. Para ele, não há pergunta boa ou ruim. A resposta sairá sempre em tom de desafio.

– Nervoso? Olha aqui, eu raramente fico nervoso. Quando fico preocupado, fumo mais charutos. Um excesso talvez seja quando fumo meia dúzia de Cohibas. Fumei cigarro por 30 anos e parei há sete. Já fumo charutos há 15 anos. Se estou num lugar em que é proibido, tudo bem. Não fumo, não tem problema.

Problema mesmo é quando questionam o seu jeito de comandar o Vasco. Sócio do clube há mais de 60 anos, Eurico orgulha-se de ser centralizador. Direciona sua preocupação ao futebol, mas sem esquecer a portaria, a secretaria e, até, o lixo.

– Então eu vou deixar o lixo acumular? O asseio é fundamental. Você tem que tratar o clube como se fosse a sua casa. Se a sua casa é porca, o seu clube é porco. Sou o presidente. O regime no clube é presidencialista. Só vou me preocupar com uma faixa? Eu delego a todo mundo, mas se não estão indo bem, eu troco. Sabe por que o Zoológico está desse jeito? Abandono! E eu encontrei o Vasco abandonado. O cara administrava o clube à distância!

O cara em questão, Roberto Dinamite, ídolo e ex-presidente do Vasco, é o principal alvo, hoje, de Eurico Miranda. O dirigente critica, com um repertório de palavrões e desaforos, a gestão de seu antecessor e, em proporção inversa, com o seu jeito de andar na contramão, costuma exaltar o tão questionado presidente da Federação do Rio, Rubens Lopes.

– Minha filha, tenho amizade com o Rubens Lopes há mais de 40 anos. Qual é o problema? Não importa o cargo que ele ocupa. Tenho amigos selecionados. Se isso desperta ciúmes em a, b ou c, eu não sei. E não quero saber.

Eurico não se importa também com as críticas por manter dois de seus quatro filhos com funções de responsabilidade dentro do clube. Euriquinho funciona como seu assessor, dá pitacos, é influente no futebol. Álvaro é um gestor, com o trabalho voltado para as divisões de base.

– Já entendi. Você quer falar de nepotismo, não é? Em primeiro lugar, tenho confiança irrestrita nos meus filhos. Eles são incapazes de fazer alguma coisa sem falar comigo. Se falarem pro aí que é nepotismo, isso é problema deles. Hoje, tenho condição de decidir o que vou fazer. Já passei da fase de me preocupar com o que os outros falam. Estou agora usufruindo os anos que me restam.

Se não estivesse no Vasco, Eurico estaria em casa, rodeado por seus sete netos, lendo um bom livro. Mas, com uma agenda presidencial voltada para o luxo do futebol e o lixo da sede, sobra-lhe pouco tempo. Os hábitos mudaram de acordo com a necessidade.

– Não estou conseguindo mais ler. E eu gostava. Continuo lendo, mas só os regulamentos. Leio todos, sempre. Regulamento não é para ser consultado. É para ser lido e estudado. É como uma bula. Eu leio a bula diversas vezes.

Com facilidade para compreender regulamentos e paciência para interpretar e assimilar entrelinhas que normalmente passam despercebidas, Eurico raramente elege um representante para reuniões fora do clube. E acaba sendo ele, com os indefectíveis suspensórios, charuto e voz pigarrenta, quem rouba a cena. No início de dezembro, a porta de entrada para sua volta ao Vasco foi a de saída para executivos do clube como Cristiano Koehler, ex-diretor geral, que recentemente aportou no Flamengo.

– Sou totalmente contra os executivos. O executivo hoje está aqui, amanhã está ali, depois está acolá. O dirigente tem que ter responsabilidade e, acima de tudo, amor ao clube. Tem que amar o clube como se ama uma mulher e um filho. Tem que doer na carne dele quando maltratam o clube.

Eurico Miranda sente essa dor. E não aconselha ninguém a querer experimentá-la:

– Em ninguém eu sinto essa paixão. A minha é algo que as pessoas nem têm que ter. Não, ninguém deve sentir isso por um clube, por nada…

Fonte: Extra

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