Até 2013, eram outros números que traziam orgulho para Nei: as conquistas de campeonatos gaúcho, paranaense, da Libertadores e da Recopa em passagens de sucesso pelo Internacional e Atlético-PR. Em São Januário, Nei precisou extravasar os piores momentos da carreira na academia. Afastado do elenco no ano passado, após o segundo rebaixamento vascaíno, o ex-aluno de educação física cumpria rotina de um autêntico “marombeiro” na academia. O esforço e a disciplina o fizeram ganhar até seis quilos de massa muscular, com direito a impressionantes 600 kg de levantamento com as pernas.
Com a facilidade dos aprendizados na faculdade – Nei tem um irmão formado em educação física – e um gosto natural pela prática da musculação, o lateral virou um “tanque”, como brincavam os companheiros de Vasco. Nos aparelhos da academia, ele se superava e levantava cada dia mais peso. No leg press – aparelho de levantamento de peso com as pernas – “bateu”, como indica a gíria de marombeiros, mais de 590 kg. No supino e bíceps, 80 kg e 50 kg de cada lado, respectivamente. Ainda para as pernas, até 300 kg no agachamento.
– Nos pesos é difícil ganhar de mim. Sou um cara chato, que gosto de malhar, que pego coisas para ler, para saber mais sobre ganho de força. Hoje, de volta ao elenco, claro que ainda faço academia, mas não faço mais com o peso que eu fazia ano passado. Tem que ser bem abaixo – explica Nei.
Para voltar ao time, ele precisou mudar bastante essa rotina. O jogador chegava a malhar perna pela manhã e peito e costas à tarde. No outro dia, pegava pesado no tríceps e bíceps. A sua última partida oficial foi há 473 dias – no dia 27 de outubro, contra a Ponte Preta, no Brasileiro de 2013, quando o Vasco perdeu de virada por 2 a 1.
O jogador volta a campo nesta noite, às 19h30, contra o Macaé em São Januário para tirar alguns pesos das costas: o da ansiedade pela reestreia pelo Vasco e o do reencontro com a torcida. Para voltar ao elenco, Nei passou por bateria de exames. Durante a pré-temporada, ele foi perdendo naturalmente a massa muscular a mais que ganhou com tanta prática na academia. Em 2013, ele jogava com 80 kg a 81 kg. No ano passado, com tanta maromba, chegou a 86,3 kg. Agora, de volta aos 80 kg, ele tenta deixar de lado as antigas vaias e também o tempo afastado no ano passado. Com fala serena, mansa, o experiente Claudinei Cardoso Félix da Silva, de 29 anos, quer provar para si e, consequentemente, para a torcida que a carreira vitoriosa que teve até chegar ao Vasco não foi à toa.
– Meu foco é trazer o Nei de volta. Trazer os títulos que trouxe para o Internacional, para o Atlético-PR. Quero conseguir as vitórias aqui, quero conseguir aqui o que sempre tive na minha carreira – diz Nei, sem se importar com as vaias e as críticas da torcida em São Januário: – Se serei perseguido, se receberei vaias, isso vamos ver com o tempo. Atleta ganha torcida fazendo bons jogos. Não posso querer chegar depois de um ano e meio sem jogar e achar que a torcida vai pegar o Nei nos braços. Quero voltar e voltar bem, para quem sabe um dia a torcida cantar meu nome de novo.
Além de educação física em Campinas, Nei chegou a fazer dois anos de administração de empresas, mas não conseguiu estudar no ano passado. “Não tinha cabeça”, diz ele, que focou naquele momento na musculação e nos treinos de muay thai, que pratica há muitos anos. A disposição na academia, porém, não era apenas por gosto pessoal. Muito menos por estética.
– Além de gostar de malhar, preciso disso porque sou atleta de força e uso meu corpo no jogo. Em disputa de braço, um tranco, já atrasa um atleta muito rápido. Normalmente é difícil para um atleta conseguir força, se precisa de certo tempo para conseguir. Fiquei um ano parado e voltei forte, com peso ótimo, não voltei acima do peso. Perdi massa magra agora, o que é normal, porque voltei com treinos aeróbicos bem mais fortes. Como tenho pouco percentual de gordura, acabo queimando muito rápido. Minha esposa olha meu braço e brinca comigo: “ano passado olhava para você você estava um touro, hoje mudou tudo, já diminuiu o braço” – conta o jogador.
Na véspera da sua primeira partida oficial em 473 dias, o jogador conta com a confiança do técnico Doriva e o incentivo dos companheiros.
– O Nei é o jogador mais rodado do elenco, tem um currículo fantástico. Se as coisas não aconteceram bem, é página virada – disse o treinador do Vasco, tentando tirar mais um peso das costas do lateral e dublê de fisiculturista Nei.
Fonte: GloboEsporte.com