Após maratona de quase 20 horas, Eurico volta ao poder no Vasco

 

Foram cerca de 20 horas dentro do empoeirado ginásio de São Januário. O penteado não resistiu, foi consumida pelo menos uma dúzia de charutos enquanto praticamente não houve alimentação, até que, já no fim da madrugada desta quarta-feira, Eurico Miranda, de 70 anos, comemorou com o tradicional grito de “Casaca!” sua volta à presidência do Vasco.

É a quarta eleição que ele vence no clube. Eurico presidiu o Vasco entre 2001 e 2008, quando perdeu o mandato porque Justiça anulou a eleição de 2006 por problemas com a lista de eleitores.

O retorno à presidência será confirmado daqui a uma semana na reunião do novo Conselho Deliberativo, eleito ontem por 5.592 sócios que compareceram para votar – recorde na história eleitoral do Vasco. A chapa de Eurico Miranda teve 2.733 votos, oito a mais que a soma de seus dois adversários. Assim, seu grupo ganhou o direito de indicar 120 membros do conselho.

A chapa de Julio Brant ficou em segundo lugar, com 1.570 votos, e terá direito a 30 cadeiras no Conselho Deliberativo. O grupo de Roberto Monteiro, em terceiro lugar com 1.155 votos, foi o grande derrotado da noite. A diferença de votos entre a soma dos candidatos e o total de eleitores que compareceram se explica pelos votos que foram impugnados porque os sócios não deviam constar da lista de eleitores e também abstenções.

CENAS DE VIOLÊNCIA

Somente às 3h30m desta quarta-feira terminou a contagem dos votos de uma das eleições mais polêmicas da história vascaína. Se todo o processo eleitoral foi marcado por acusações de fraude, adiamento do pleito e batalha jurídica, o dia da votação também foi muito movimentado. Houve pedidos de impugnação do pleito, cenas que beiraram a violência – Julio Brant teve de deixar o clube escoltado, já de madrugada – e grande comemoração na madrugada.

Ao conhecer o resultado, Eurico improvisou rápida entrevista coletiva no ginásio de São Januário para comentar sua vitória.

– A partir do momento em que eu assumir a presidência, o Vasco vai voltar a ser respeitado, dentro e fora de campo. O resto é consequência. Vamos tirar o Vasco dessa situação – declarou.

Pouco antes das 2h, houve momentos de tensão quando Julio Brant resolveu ir embora. O candidato deixou o ginásio de São Januário e entrou em um carro que o esperava no estacionamento do time de futebol. Quando perceberam a saída de Brant, um grupo de apoiadores de Eurico que estava dentro do clube, mas fora do ginásio, correu em direção ao carro do candidato, que saía pelo portão. Do lado de fora, havia outro carro com policiais civis para dar proteção à saída de Brant. Um deles chegou a exibir a arma quando os simpatizantes de Eurico se aproximaram, e Julio Brant deixou o clube apenas ao som de xingamentos.

Não foi a única cena de violência da noite. Por volta das 21h, ainda com a votação em andamento, houve um princípio de confronto entre simpatizantes de Eurico e de Roberto Monteiro em frente ao portão principal de São Januário. A polícia militar controlou a confusão com uso de gás pimenta.

TENTATIVAS DE IMPUGNAÇÃO

Durante todo o dia, a votação ocorreu em clima tranquilo. À tarde, a chapa de Julio Brant apresentou à Mesa Eleitoral três tentativas de impugnar e eleição, com as seguintes alegações: a de que a lista de eleitores era diferente da que foi entregue na reunião das chapas, na semana passada; a de que Monteiro, presidente interino da Assembleia Geral, e Eurico, presidente do Conselho de Beneméritos, não poderiam compor a Mesa Eleitoral por serem candidatos a presidente; e a de que 153 sócios gerais não recadastrados (categoria sem direito a voto) estavam na lista.

Todas as alegações foram rejeitadas pela Mesa Eleitoral, presidida por Monteiro, ao final da votação.

Os aliados de Julio Brant estudam se vão tentar nos próximos dias entrar na Justiça contra as fraudes que eles consideram ter havido na formulação da lista de eleitores.

A eleição foi acompanhada por um enviado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ) e por um promotor do Ministério Público. O fato de a vantagem de Eurico ter sido tão expressiva pode desestimular os aliados de Brant a irem à Justiça.

Ao final, já perto das 4h desta madrugada, restou a comemoração do advogado de 70 anos, charuto entre os dedos, tom arfante e assertivo, enquanto tinha o nome gritado por aliados:

– Não estou feliz por mim, mas pelo Vasco, que terá futuro melhor. Eu tive mais que a soma dos votos deles. Quem me botou de volta foram os vascaínos, os sócios – disse. – Se eu estivesse preocupado com a situação (financeira) do Vasco, não teria largado meus netos para resgatar o Vasco. Vim porque posso tirar dessa situação.

Fonte: Extra

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