O verdadeiro time do povo: Resposta histórica

Houve um tempo, mais precisamente em 1924, em que o Vasco, por conta de sua intransigência histórica de aceitar os negros e o povo trabalhador em seu time de futebol, foi obrigado, pelos dirigentes dos outros grandes e elitistas clubes do Rio, a renegar sua gente, caso quisesse continuar a disputar o Campeonato Carioca. Porém, fiel àqueles que elevaram com honra e glória a cruz-de-malta ao lugar mais alto, o clube, por intermédio do presidente José Augusto Prestes, disse não a tal afronta.

Como poderia o Vasco, legítimo campeão de 1923, com esta gente humilde e tantas vezes humilhada, virar as costas justamente para os que contribuíram com tão estupenda conquista e aceitar a imposição da Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA), a Federação de então, que exigia a exclusão de doze jogadores vascaínos da competição que, não por coincidência, eram todos negros e operários? Um título irretocável, o Carioca de 1923, para o Gigante, que disputava pela primeira vez a Primeira Divisão, cercado de povo por todos os lados. Em 14 jogos, foram 11 vitórias, dois empates e somente uma derrota. Como lançar ao abismo àqueles que escreveram tão épico capítulo da história vascaína?

Inflado com o sentimento dos justos, o presidente José Augusto Prestes, em resposta à afronta dos adversários, envia carta à AMEA pedindo a desfiliação do Vasco da entidade, por entender que mais importante do que seguir ao lado dos preconceituosos elitistas, segundo os quais o time vascaíno era formado por atletas de profissão duvidosa, era fundamental caminhar junto de quem, verdadeiramente, fez o Vasco, mais do que vencedor, um clube pioneiro, diferente de todos até então. Um clube regido pelo sentimento de igualdade, justiça e liberdade.

Por conta de tamanha injustiça, no dia 7 de abril de 1924, o presidente Prestes envia a Resposta Histórica, ao pedido de exclusão feito pela AMEA, considerada pelos vascaínos, o principal troféu do clube. Em um dos trechos da carta, José Augusto Prestes deixa claro a opção do Vasco por seus atletas e pela desfiliação da entidade: Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Confira abaixo a
íntegra da resposta histórica do Vasco à AMEA

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Ofício nr. 261

Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle M.D.

Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos

As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.

Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a u
m tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.

Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado

Fonte: SITE OFICIAL DO VASCO 

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