A vida profissional de Bellini foi rica em histórias e conquistas. Campeão por Vasco, São Paulo e, especialmente, seleção brasileira, o capitão de 1958 deixa inúmeras lembranças a quem teve a sorte de vê-lo jogar. Mas não só isso. Quem não o viu em campo, tem a chance de conhecer um pouco da história do ex-zagueiro, que morreu nesta quinta-feira, aos 83 anos. Parte dessas recordações pertencem a Divanira, irmã do craque, e estão organizadas em um baú na casa da sobrinha, Valéria Bellini. Relíquias como a faixa do título mundial e cartões postais enviados à família durante as Copas do Mundo que participou estão entre os objetos mais bem cuidados.
O item mais precioso deixado por Bellini, sem dúvida, é a faixa conquistada no Mundial de 1958. Intacta, dourada, chega a emocionar quando é mostrada a quem entra na casa da família. Do torneio, o ex-zagueiro também guardou outras recordações. Entre elas, uma foto ao lado do lateral Nilson Santos e do volante Zito, outros expoentes daquela geração.
Mesmo longe, lá dos gramados europeus, o eterno capitão não se esquecia da família. Tanto que tinha um costume: enviar, de todos os lugares, um cartão postal com notícias. Alguns ainda estão no baú da família. Um deles, datado de 26 de maio de 1958, fala um pouco da preparação brasileira para a Copa. Antes de embarcar para a Suécia, onde seria disputado o Mundial, a Seleção de Vicente Feola parou na Itália. Lá, Bellini conheceu o Papa, mas não conseguiu fazer compras.
– Meus pais e a todos, chegamos a Roma bem, hoje à tarde viajaremos para Florença, jogaremos 5ª feira. Vamos ao Papa outra vez. Está tudo caro, quase não se pode comprar nada. Beijos ao pai, mãe, todos da Diva, Hilda, Nelson e Cida – escreveu Bellini, em situação bem diferente da que os craques da atualidade estão acostumados.
Há outros dois cartões postais na casa da família. Um deles enviado de Belgrado, que hoje pertence ao território da Sérvia. “Chegamos à Iugoslávia 2ª feira. Hoje fomos a um campo de concentração em que os alemães mataram 80 mil prisioneiros. Amanhã é o jogo à tarde e às 19h viajaremos para a Itália de trem. De lá escreverei”, relatou o ex-zagueiro.
Os postais serviam também para o jogador dividir angústias com amigos e familiares. Na Copa de 1966, em que o Brasil caiu ainda na primeira fase, Bellini escreveu para lamentar a situação ruim da equipe, que precisava vencer Portugal, de Eusébio, para avançar à fase final. Perdeu por 3 a 1 e despediu-se precocemente do Mundial, após dois títulos consecutivos.
– Caro Hélio, que tudo corra bem com você, Diva e a filharada. Aqui as coisas não vão muito bem, pois mesmo se ganharmos de Portugal corremos o risco de não nos classificarmos, pois a Bulgária é capaz de amolecer o jogo com a Hungria. E pelo sistema de goal average a nossa situação está ruim. Enfim vamos ter fé em Deus. Um grande abraço a vocês todos. Beijos.
– Meu tio era muito apegado à família, ele mandava postais de todo lugar que ele ia – afirmou Toninho Bellini, sobrinho do campeão mundial e ex-prefeito de Itapira, que recebeu a reportagem do GloboEsporte.com nesta sexta-feira.
Faixa e postais não são as únicas recordações que a família tem de Bellini. O ex-zagueiro possuía um arquivo de fotos antigas e novas, em que aparece ao lado de jogadores, familiares e amigos. Em uma delas, mais recente, divide cena com Pelé. Em outra, posa com os pais no dia em que foi homenageado em Itapira, logo depois da conquista da Copa. Nas demais, aparece com as camisas de Vasco e Sãojoanense, primeiro clube profissional do craque, ou sem roupas esportivas.
O baú, cheio de relíquias, ficará para sempre como uma recordação da família. Não só isso: serve para imortalizar o craque. Tal qual o gesto de levantar a taça acima da cabeça em 1958.