Com o futuro indefinido, as prioridades estão traçadas e passam pelo principio de trazer dinheiro para o clube a curto prazo. Segundo Bernardo, o marketing vascaíno está focado em quatro áreas nesse momento: propriedades comerciais do uniforme, fornecimento de material esportivo, programa de sócios e lojas oficiais. O que não quer dizer que outras ideias não possam sair do papel.
– Estou no Vasco há poucas semanas e as ideias são muitas. Há muita coisa a se fazer em conjunto do vice-presidente de marketing, Victor Ferreira. A marca do Vasco não pode ficar no patamar atual. Mas vivemos uma corrida contra o tempo, infelizmente. Por isso temos que escolher nossas prioridades, uma vez que não vamos conseguir fazer tudo em quatro meses. E a prioridade principal é trazer dinheiro para o clube. Tenho conversado muito com os vascaínos para entender o que eles querem, para estar mais próximo da torcida. Muitos me mandam mensagens nas redes sociais e passam ideias. Estou aberto a esse contato. Meu papel aqui é representar esses torcedores – disse o gerente geral de marketing, que foi indicado pelo diretor executivo de futebol Rodrigo Caetano, com quem trabalhou nas Laranjeiras.
Além do Fluminense, Bernardo trabalhou ainda no Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014 e na empresa de marketing esportivo CSM/Golden Goal – onde gerenciava o projeto de sócio torcedor do Botafogo antes de chegar à São Januário. Nesta entrevista, ele explica o trabalho focado no curto prazo por causa das eleições, revela ideias para levar os torcedores novamente para os jogos do Vasco e fala ainda sobre a intenção de criar um tour pelo estádio, uma agência de viagens e a medalha Pai Santana para homenagear vascaínos ilustres.
O Vasco já negocia a renovação com a Caixa Econômica Federal?
Estamos em fase de apresentação de relatórios de tudo o que fizemos nesse período de contrato. O contrato acaba em 2014, mas é automaticamente renovável. Só que para isso precisamos apresentar vários documentos todos os anos.
São Januário tem ficado vazio nos últimos tempos. O Vasco procura formas de atrair mais a torcida, com mais vantagens para sócios e não-sócios?
Quando comecei a trabalhar com marketing esportivo, sempre sonhei em ter um estádio próprio para trabalhar com a ativação do torcedor. Cheguei no Vasco e desenhamos várias estratégias para engajar esses torcedores. Já estamos trabalhando em algumas, mas temos um problema grande pela frente: a punição no Campeonato Brasileiro. Pensamos em algumas coisas como fogos para quando o time entrar em campo, um canhão de luz apontado para o céu em todos os jogos a noite para os vascaínos de vários lugares do Rio (aos quais a distância permitir) saberem que está tendo jogo em São Januário, telão interativo com imagens ao vivo do vestiário por exemplo, promoções durante a partida… Poderíamos lançar uma pergunta no telão, o torcedor focalizado responder com a mão e, se for sócio, ganhar uma camisa. Mas hoje não temos a estrutura necessária no telão. Ele não tem som, o que dificulta a ativação. Depois voltamos novamente na questão da punição. Pensamos em várias coisas, mas existe uma dificuldade latente de trazer o torcedor para o estádio no Campeonato Carioca. Não é um problema apenas do Vasco. E no Brasileiro vamos ter três jogos com portões fechados e outros três a 100km do Rio. Um grupo de torcedores criou essa situação desfavorável em Joinville e a torcida toda está sendo penalizada. Por uma questão de segurança naquela partida, a torcida passa por esse absurdo do mando de campo. Que pelo menos fizessem como na Turquia. Se não me engano, o Fenerbahçe foi punido e abriram o estádio apenas para mulheres e crianças. Fechar o estádio é a maior punição para o clube, para o jogador… A bilheteria é hoje uma das principais fontes de receita do futebol. Jogar fora de casa nessa situação é uma facada no coração do clube.
Em relação aos camarotes, eles geram lucro ao clube? Quanto o Vasco arrecada?
Não posso revelar valores, mas esse anos temos um grave problema para comercializar. Teremos menos jogos em São Januário por causa da punição, a paralisação para a Copa do Mundo, os baixos públicos do Carioca… Temos mais de 20 camarotes e seis vendidos – fora os que são cedidos a patrocinadores por direito. Os contratos estavam sendo feitos por apenas um ano. O ideal é que fossem de dois, três anos. O problema é que agora estamos correndo contra o tempo. Qualquer planejamento de marketing no clube só é válido até a eleição.
Essa indefinição e a própria proximidade da eleição atrapalham o trabalho?
Demais. Em qualquer empresa, a área de marketing precisa ter um planejamento à curto, médio e longo prazo. Estamos fazendo isso, mas a prioridade total é no curto prazo porque não sabemos se o médio e o longo vão existir. Temos um projeto legal de internacionalização de marca envolvendo Portugal. É a raiz do clube, que carrega em seu nome um símbolo português. Eu mesmo já estive no consulado de Portugal para iniciar as conversas. Mas hoje não posso colocar isso como prioridade. Queremos fazer esse trabalho de aproximação, envolvendo por exemplo, empresas portuguesas. Há um foco comercial por trás. Mas hoje temos que pensar em trazer dinheiro para o clube. O projeto de internacionalização não visa isso, mas se não começar agora, nunca será feito. Todo vascaíno vai torcer pelo Brasil e depois por Portuga
l na Copa do Mundo. E os portugueses no Brasil deveriam aproveitar para conhecer o Vasco. Já conversei com alguns e a maioria cita o Vasco primeiro. Temos que explorar isso.
Para isso não seria interessante criar um tour por São Januário?
Temos essa ideia também. Hoje os torcedores entram em São Januário e tiram fotos sem pagar um centavo ao Vasco. Em qualquer clube do mundo o torcedor paga. Podíamos ter uma visitação que levasse o torcedor à sala de troféus, ao vestiário, à academia, ao campo… Isso traria mais receita ao Vasco e não existe hoje. Como também colocar a taça da Libertadores no campo para o torcedor tirar uma foto especial, como o Boca Juniors faz na Bombonera. É uma ideia.
Já há algo pensado para a despedida do Juninho Pernambucano?
Nosso objetivo é sentar com o Juninho para ontem e entender qual é a vontade dele. O Vasco quer realizar um evento de despedida focado na vontade do nosso grande ídolo.
O contrato com a Penalty termina no meio do ano e há problemas de abastecimento. Esse contrato será renovado?
Posso dizer apenas que a prioridade é da Penalty. Mas é claro que estamos atentos à percepção do torcedor. Vamos ver o que é melhor para o Vasco.
Acredita que o clube vai começar a Série B já com um patrocinador no lugar da Nissan?
Nosso objetivo hoje é fechar todas as propriedades comerciais do uniforme, que é o que traz mais dinheiro para o clube. Temos um projeto comercial para isso e estamos conversando com algumas empresas. A ideia é fidelizar também o torcedor com essas empresas. Se o vascaíno não investir na tal empresa, o dinheiro que ela coloca no Vasco não volta. E isso não é bom. Temos visto empresas ficando pouco tempo nos clubes. Há chance sim de novidades antes do Campeonato Brasileiro.
A forma como a Nissan saiu prejudicou a marca do Vasco no mercado?
Na minha opinião, prejudicou mais a imagem da própria Nissan. Volto a dizer: um pequeno número de torcedores não representa a grandeza do Vasco. Se a empresa é parceira, ela está ao lado do clube nos momentos bons e ruins.
A questão política no programa de sócios não inviabiliza ainda mais um aumento do torcedor para se associar ao clube? O Vasco trabalha com uma meta para o programa de sócios?
Trabalhamos em duas frentes na questão dos sócios. A primeira é fazer com que essa adesão seja mais fácil, simples e rápida, sem que o torcedor precise preencher milhares de informações em um primeiro momento. Isso pode ser feito depois. Temos que trazer o vascaíno para dentro do clube, transformar a receita variável em receita fixa. Se um torcedor vem a um jogo e só volta dois meses depois, imagina ele virando sócio? Seria como se viesse em quase todos os jogos. Outro ponto mais complexo envolve questões políticas. Queremos algo como um plano de sócio do futebol, o que o Fluminense fez recentemente. Mas diferentemente do Fluminense, a ideia no Vasco é que não dê direito a voto até para não envolver nenhuma questão política. O problema é que estamos falando de um clube e não de um produto comercial simples. Temos um estatuto, um conselho…. Por isso é uma corrida contra o tempo. Sobre números, não temos essas metas neste momento. Mas uma coisa é certa: um clube do tamanho do Vasco não pode ter o número atual de sócios.
Falando do Fluminense, nas Laranjeiras você deu início à agência de viagens do clube. Pensa em algo semelhante no Vasco?
Temos esse objetivo sim, justamente para aproximar o torcedor de todas as cidades e regiões que o Vasco vai visitar em 2014. Só esse ano iremos duas vezes para o Rio Grande do Norte, duas para o Ceará, duas para Goiânia, sem falar em Maranhão, Ceará, Mato Grosso… Ou seja: temos que nos aproximar desses vascaínos e expandir a marca do clube. Não só com eventos, mas levando o programa de sócios, a escolinha oficial do clube, o projeto de franquia de lojas. Com a criação da agência de viagens do Vasco, o deslocamento de nossa equipe não teria custos. Na verdade, seria retirado da parte que teríamos direito no projeto.
Há mais alguma projeto em vista, principalmente em caso de continuidade após a eleição?
Queremos aproximar o clube das grandes personalidades vascaínas. Não só ex-jogadores, como atrizes, atores, jornalistas. É um orgulho para o Vasco ter entre seus torcedores nomes como Fátima Bernardes, Fábio Porchat, Rodrigo Santoro… Uma ideia que tivemos, mas não é prioridade, é a criação da medalha Pai Santana. Serviria para retomar a imagem de um ícone da história do clube e também homenagear artistas de relevância no cenário nacional. Criada a medalha, pensamos ainda em licenciar a marca para passar parte do lucro para a família do Pai Santana. Outra coisa que temos de fazer é levar ex-atletas nas lojas do Vasco, todo mês se possível. Esses caras geram fluxo de venda. Facilita o fato de termos grandes ídolos trabalhando no clube, como Carlos Germano, Mauro Galvão e Roberto Dinamite, o maior jogador da história vascaína.
Fonte: GloboEsporte.com