Ele tem dois anos a mais, mesmo assim, considera Bernardo, de 23 anos, do Vasco, como um pai. Atacante do Bonsucesso, adversário do Gigante da Colina neste sábado, Rômulo tem um forte laço de amizade com o apoiador, criado ainda quando os dois eram adolescentes na base do Cruzeiro e fortalecido após os momentos duros que o jovem, morador da favela do Tuiutí, passou nos últimos tempos.
Rômulo, assim como Bernardo, era visto como uma promessa na Raposa. Rápido e habilidoso, ganhou oportunidades em Seleções de base e criou expectativas na diretoria do clube mineiro, que além da dupla, contava em faixas de idade próximas com o atacante Guilherme, hoje no Atlético-MG, o zagueiro Thiago Heleno e o apoiador Vítor Júnior, ambos no Figueirense, além do lateral-esquerdo Diego Renan, que também defende o Vasco.
Porém, ao contrário destes, que hoje já estão com uma vida mais estabilizada, Rômulo encontrou obstáculos e ainda tenta buscar seu lugar ao sol.
“Não é que surgiu uma oportunidade primeiro para eles do que para mim. Eu não tinha uma cabeça boa. Eu não entendia antigamente o que era o futebol. Achava que era de qualquer jeito. Tem uma hierarquia, tem que saber respeitar. Eu, cabeça dura, não conseguia entender isso. Não respeitava nem os meus companheiros. Às vezes eles estavam melhores do que eu e eu não aceitava. Isso atrapalhou bastante, eu bati de frente com a diretoria e o Cruzeiro começou a me emprestar”, admite.
Após atravessar uma vida de andarilho da bola, as oportunidades foram ficando mais escassas, até que, no início deste ano, desempregado, viu seu antigo amigo Bernardo lhe estender a mão.
“Sou suspeito para falar desse cara. O Bernardo é meu amigo, meu irmão, foi um pai para mim, nunca me abandonou, sempre me ajudou mentalmente e, inclusive, financeiramente. Ele Sabe da minha condição. Não vou esquecer nunca do que fez por mim”, agradeceu ao apoiador, que através de um amigo, conseguiu a chance no Bonsucesso para Rômulo faltando uma semana para o encerramento da janela de transferências.
Empolgado agora com a oportunidade de ouro surgida no clube da Zona da Leopoldina, o atacante admitiu que, por pouco, não abandonou o futebol.
“Não vou mentir. Tenho dez irmãos, moro com minha mãe e as coisas começaram a ficar difíceis. Se não surgisse esta oportunidade, eu ia largar o futebol, pois já estou com 25 anos. Mas Deus abriu essa porta no Bonsucesso e estou conseguindo mostrar meu futebol”, vibrou.
Embora estejam sempre se encontrando quando podem, Rômulo e Bernardo não poderão ficar frente a frente neste sábado, já que o apoiador vascaíno não foi relacionado pelo técnico Adilson Batista, fato lamentado pelo atacante, que é torcedor do Gigante da Colina e terá a presença maciça de amigos e familiares da favela do Tuiutí, comunidade vizinha a São Januário.
“É uma pena. Eu queria muito poder dar um abraço nele antes do jogo”, lamentou.
Fonte: UOL