Antes de decidir se o ídolo Felipe volta para encerrar a carreira no clube, o Vasco apostou em um novo maestro. Douglas, 32 anos, estreia hoje no clássico contra o Flamengo com a missão de ser o cérebro da equipe de Adilson Batista. Apesar de ter sido eleito o melhor jogador da Série B pelo Corinthians, em 2008, quando o time paulista foi campeão e voltou à elite, o meia acredita que esse não é o único fator que o faz ser útil ao rebaixado Vasco.
— Realmente conheço a competição, joguei algumas vezes e fui feliz na conquista de título e acessos à Série A. Pode ter sido um fator, mas acho que não foi só isso. A experiência e a bagagem no futebol, estar em grandes clubes e ganhar títulos de importância pode ter sido o que mais interessou ao Vasco — afirmou o jogador, que deixou o Corinthians perseguido pela torcida.
Douglas preferiu trocar a ameaça de violência pela ameaça de atraso nos pagamentos. Com metade do salário pago por cada equipe, espera que isso não seja problema até o fim do empréstimo, em dezembro. Pelo discurso, o meia pode até ficar mais tempo, até pela boa relação com Rodrigo Caetano.
— Confio nessa diretoria, no diretor de futebol. Acredito no projeto do clube e antes de vir para cá não pensei nessa parte financeira. Pensei apenas em vestir a camisa de um grande time mais uma vez, mostrar meu futebol, conquistar vitórias e títulos — disse o camisa 10. Encarando o clássico logo na estreia, Douglas está ansioso.
— São sempre grandes jogos e é uma honra defender o Vasco num jogo tão importa nte — emendou.
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
Primeiro gostaria de dar as boas-vindas ao Rio de Janeiro. E saber porque você nunca jogou em time daqui. Vai poder ir a praia, agora…rs
Verdade, agora é uma nova fase da minha carreira e estou muito motivado. O Rio de Janeiro é uma cidade muito bacana, já tinha vindo aqui várias vezes, conheço e gosto muito, praias e paisagens muito bonitas realmente. Não é à toa que é chamada de Cidade Maravilhosa. É a primeira vez que jogo num clube do Rio, joguei em São Paulo, Santa Catarina, Porto Alegre, e também fora do país, mas o Rio de Janeiro é um grande centro do futebol brasileiro e mundial, e o Vasco um grande expoente desse centro. Fico feliz em estar jogando num grande clube carioca, principalmente no Vasco.
Você tem dois títulos de Série B. Ajudou Criciúma e Corinthians a se reerguer. Acha que foi também por isso que o Vasco te selecionou a dedo?
Realmente conheço a competição, joguei algumas vezes e fui feliz também na conquista de título e acessos à Série A. Pode ter sido um fator que interessou ao Vasco, mas acho que não foi só isso, é um fator que contribui, mas não foi determinante. A gente tem uma experiência e uma bagagem no futebol, de estar em grandes clubes e vencer grandes títulos de importância, acho que isso sim pode ter sido o que mais interessou ao Vasco a ter procurado meus empresários e confiado no meu futebol.
Qual o segredo para voltar à elite depois de um trauma como esse?
É complicado, às vezes jogamos em gramados ruins, viagens longas a outras partes do Brasil, temos que lidar com a pressão de voltar. É uma competição difícil, com muitas armadilhas pelo caminho. Acho que é sempre se dedicar ao máximo, ter a noção de que o clube não está no lugar onde deveria, que é a Série A, vestir e honrar a camisa e estar fechado com o objetivo principal de voltar para a elite. A responsabilidade aumenta ainda mais e é preciso ter tranquilidade e trabalhar sempre duro para render o melhor, tanto nos treinos quanto nos jogos. A reconstrução é aos poucos, com um time qualificado e um elenco de qualidade, coisa que o Vasco já tem, montou um grupo muito bom e motivado em busca do objetivo de recolocar o time onde ele deve estar.
Seus empresários me falaram que você é tímido. Na coletiva estava solto. É a idade que ajuda a dar as melhores respostas? rs… Com o tempo você vai ficando melhor em campo e na vida pessoal?
É verdade, eles me conhecem bem. Com a experiência a gente aprende muita coisa, vai amadurecendo. É um processo natural, mas sempre tive esse meu jeito. Me falaram que fui bem na coletiva,rs o pessoal gostou, estou feliz com o Vasco, com a recepção de todos aqui no clube. Com o tempo a gente aprende muito, já vivi muita coisa na minha carreira e no meu lado pessoal também, tenho minha esposa, minhas filhas para criar… Espero melhorar cada vez mais, dentro e fora de campo, estar mais maduro faz ver as coisas de um jeito mais tranquilo, analisar melhor as coisas. Em campo não é diferente, ajuda a ter uma percepção melhor do jogo, saber a hora certa de enfiar uma bola, cadenciar o jogo, preencher um espaço…
E esses cabelos grisalhos? Você disse que é charme. Já pintou? Pretende? 🙂
É charme, é charme. Tá bem assim, não tem essa de pintar não rsrsrs
Você acredita que todo jogador tem seu ciclo em um clube? Foi assim no Corinthians? Fica uma mágoa na forma que saiu depois de dar tantas alegrias?
O futebol é assim, tem horas que é bom mudar de ares, como falei, achei que não teria chances de mostrar meu futebol lá. Tenho um carinho muito grande pelo Corinthians, vivi muitas coisas boas lá, tenho grandes amigos e ganhei títulos, Libertadores, Mundial, isso fica pra sempre… Não tenho mágoa, sai pela porta da frente, diante de uma proposta boa de empréstimo para o clube, para o Vasco e para mim.
Ano passado o Flamengo queria te trazer. Por que não veio? Preferiu o Vasco? Tem noção de como é importante pro vascaíno ganhar do Flamengo esse ano?
Fiquei sabendo pela imprensa de algumas propostas, sei que teve sondagens de alguns clubes, mas não sei se chegou algo do Flamengo. A Think Ball que cuida dessa parte para mim. Como falei na coletiva, fiquei sabendo do interesse do Vasco e achei que era a hora de mudar de ares, fiquei empolgado com o projeto e animado em poder vir pra cá, então aceitei e estou contente aqui. Sei da importância desse clássico para a torcida, é um jogo que envolve muita coisa, vai voltar pro Maracanã e queremos dar essa alegria pro torcedor. Se
Deus quiser vai dar tudo certo, estamos trabalhando forte para fazer o melhor.
Você jogou grandes clássicos. Esse Flamengo e Vasco é o primeiro na volta do jogo ao Maracanã depois de anos (Em 2013 foi em Brasília). Tem alguma lembrança desse clássico carioca, que já colocou 175 mil pessoas no Maraca em 1976?
É um dos maiores jogos do Brasil, um grande clássico do futebol mundial também, são dois clubes de muita tradição, muito grandes e com muitas glórias. O Brasil se volta pra esse jogo, traz a atenção de muita gente, as torcidas esperam por esse jogo, e com o atleta não é diferente. O fato de ter colocado quase 200 mil pessoas no estádio já dá uma dimensão de tudo que é esse clássico. São sempre grandes jogos e é uma honra poder fazer parte desse clássico e defender o Vasco num jogo tão importante, com muita história. Quero escrever meu nome na história do Vasco e se Deus quiser começar bem minha trajetória no clube.
Me diz quem foi o melhor treinador com quem trabalhou?
É difícil escolher um, trabalhei com grandes treinadores, tive a sorte de estar com grandes profissionais, com pessoas que sabem muito e me ensinaram muito. Mano, Tite, Renato Gaúcho, são vários, não quero citar muitos para não ser injusto e esquecer de alguém. Para ser mais recente, não posso deixar de falar do Tite, sem deixar os outros de lado, mas ele foi o comandante do Corinthians no ano em que ganhamos a Libertadores, o Mundial. Ganhamos muitos títulos e ele nos ensinou muito, como homem, como profissional, como estudioso do futebol. Um cara muito inteligente, honesto, basta ver tudo que ele tem na carreira e o que construiu no Corinthians. Foi muito bom trabalhar com ele. O Adílson também é um grande treinador, já implantou sua filosofia e é um cara muito bacana, bom de trabalhar, tem uma visão bem interessante, estou muito feliz de trabalhar com ele aqui no Vasco.
Em 2012 você atuou em São Januário pelo Corinthians contra o Vasco, pela Libertadores. Qual foi a impressão do estádio? Acha que a estrutura vascaína é ok?
Tem uma boa estrutura sim, o estádio é bom, o gramado. A torcida fica junto, dá pra sentir o grito do torcedor e todo jogador gosta disso. É a casa do Vasco, onde o torcedor se sente em casa, assim como é o Maracanã também, mas São Januário é um bom estádio, tem a identificação do clube, do torcedor, onde o Vasco fez grandes jogos e ganhou muita coisa. Vai ser bom ter essa casa daqui pra frente, acho um bom estádio.
Um dos problemas atuais do Vasco é tentar manter os salários em dia. Você já conviveu com esse problema em outros clubes, lida bem com isso?
Já vivi isso e nunca é bom pra ninguém, é um problema do futebol brasileiro. Mas diretoria e jogadores devem estar sempre juntos, ser transparente. A direção busca honrar seus compromissos como deve ser em qualquer clube, ser profissional, coisa que o Vasco é. Confio nessa diretoria, no diretor de futebol. Acredito no projeto do clube e antes de vir para cá não pensei nessa parte, confio nas pessoas que tomam conta do clube, pensei apenas em vestir a camisa de um grande time mais uma vez, mostrar meu futebol, conquistar vitórias e títulos.
A torcida do Vasco já invadiu o campo de São Januário cobrando os jogadores, mas hoje está apoiando o time. O que mudou na sua cabeça depois da invasão dos corintianos ao CT do clube? O que faria se isso se repetisse na sua carreira?
Foi um episódio muito triste, acho que exageraram, passaram do ponto. Isso influenciou na minha decisão também. É muito triste quando acontecem episódios como esse no futebol, é um esporte, entretenimento para as pessoas, diversão, não deve acontecer coisas desse tipo, vandalismo, violência. Lamentável. É muito ruim. Acho que tem que ter um basta nisso, não combina com o esporte, com o futebol.
Você se considera um jogador em extinção pela posição que joga? Porque não temos mais meias de qualidade assim se todos querem esse tipo de jogador?
Em extinção não, temos muitos bons jogadores nessa posição ainda, o futebol brasileiro sempre revela grandes jogadores. Acredito que é um momento, uma entressafra, como muitos dizem.
Fala um pouco sobre seus gostos pessoais. O que costuma fazer no tempo livre? Ouve que tipo de música, vê que tipo de filmes? Está lendo alguma coisa?
Sou tranquilo, gosto de estar com meus amigos, minha família e curtir minhas filhas. Sou muito apegado a elas, quero acompanhar o desenvolvimento e o crescimento das meninas, tento ser um pai presente ao máximo. Sempre gosto de assistir a um filme com elas, desenhos, vê-las sorrindo me faz muito feliz e a gente se diverte juntos. Ouço bastante sertanejo na concentração, gosto bastante, é um estilo que escuto muito.
Por fim, como vê o momento do Bom Senso Futebol Clube. Você que estava ao lado do Paulo André, acha que o movimento ganha fôlego ainda? Faria uma greve para ajudar a classe?
Acho essa discussão importante para a nossa classe e para o futebol brasileiro como um todo. Todos têm a ganhar com a melhoria e o desenvolvimento do nosso futebol, então vejo de uma forma muito positiva. Tem que existir esse debate. O Paulo era um dos líderes do movimento, que também tem outros jogadores que podem tomar à frente, o movimento ainda tem muito fôlego sim. As discussões estão acontecendo, tem muita coisa para ser feita, para se trabalhar, e vejo que os jogadores estão unidos em prol de melhorar o nosso futebol. Isso nunca aconteceu dessa forma no Brasil e só tem a contribuir para o desenvolvimento do nosso esporte.
Fonte: Extra