Depois de quase quatro anos, o Clássico dos Milhões está de volta ao Maracanã. Neste domingo, Flamengo e Vasco voltam a se enfrentar no mais famoso estádio do Rio de Janeiro, e, às vésperas do reencontro, as arquibancadas foram tomadas pela nostalgia. Zico e Roberto Dinamite, ídolos dos clubes, se encontraram para recordar os muitos e inesquecíveis jogos vividos no mesmo local. Se do confronto de 2010 até hoje apenas um jogador – Léo Moura – surge como remanescente, a época vivida pelos ex-craques foi marcada pela longevidade dos jogadores em suas respectivas equipes. Além de, como fazem questão de afirmar, uma rivalidade saudável entre as torcidas.
Mesmo com o vascaíno balançando a rede por mais vezes nos clássicos contra o flamenguista – 27 a 19 -, a igualdade é traduzida no número de vitórias que cada um tem sobre o outro: 12 cada, com 17 empates. E os ídolos tiveram de pensar para pontuar os clássicos marcantes entre rubro-negros e cruz-maltinos. As oportunidades em que se enfrentaram não foram poucas, e numa época em que o Flamengo vivia seu auge, qualquer vitória tinha sabor especial para Dinamite, mesmo que não fosse capaz de tirar um título das mãos do rival.
Se hoje o que se vê nos estádios são alguns episódios lamentáveis de violência, o charme dos futebol dos anos 70 e 80 é lembrado com carinho por ambos. Sem polêmicas gratuitas ou qualquer tipo de rixa, a disputa era apenas enquanto a bola rolava
– Levamos sempre de forma sadia. Eu nunca precisei falar nada do Zico, nem ele de mim, para que o Maracanã estivesse com mais de 100 mil pessoas. Isso que é o legal – afirmou Dinamite.
Zico relembra ainda outro fator para explicar a polarização do futebol carioca comandada pelos dois rivais.
– Tinha essa coisa de liderança, demos repercussão individual. Os times se envolviam em torno da gente. Desde juvenil, a minha mãe e a mãe dele (Roberto Dinamite) vinham assistir aos jogos. Ficavam juntas, e essa coisa de família era muito importante também. Passava isso para os outros.
Antes de falarem sobre os principais jogos, recordações da estreia dos dois em um Flamengo x Vasco no Maracanã. A memória não falha, e a final do Campeonato Carioca Juvenil, de 1972, logo vem à cabeça. Comparando aos dias de hoje, Zico e Roberto – que ficaram cerca de 20 anos em seus clubes – reconhecem com certa tristeza que a identificação de “quem são os camisas 10 do Flamengo e do Vasco” não existe mais.
– Acabou – concordaram entre si.
Cara ou coroa e ‘não pise na grama’
O entrosamento entre o atual presidente do Vasco e o maior ídolo da história rubro-negra é visível na conversa. Do lado de fora do estádio até o túnel de entrada dos jogadores no campo, o bate-papo fluía de uma maneira natural. Quando chegaram no fim do trajeto, Zico logo incentivou Roberto a bater uma bola no novo Maracanã.
– Não jogou aqui ainda? Tem que jogar, pô! Teve a nossa pelada aí, deveria ter vindo.
Histórias curiosas não faltam na trajetória dos ex-jogadores. Como por exemplo a do cara ou coroa, exigência do vascaíno para que os rivais não levassem vantagem de atuar de frente para a sua torcida no início do jogo, o que acabava sendo desfavorável para o Vasco.
– Eu só gozava ele na hora do cara e coroa. Falava: “Vai para lá e eu vou para cá”. Mas ele não queria porque sabia que o time do Flamengo, quando atacava para a direção da torcida, era diferente. Aí ele invertia – resumiu Zico.
E Roberto rebateu.
– Por que deixar ele escolher? Tinha que começar na moedinha!
O fim do encontro ainda foi prolongado quando fãs – muitos deles estrangeiros – que estavam passeando pelo Maracanã pediram para tirar fotos. Antes disso, mais da “resenha” dos experientes sessentões.
– Esse campo está menor, não está? – perguntou Dinamite após o fim da descontraída conversa.
– Pois é, logo hoje que os caras têm preparo físico muito melhor do que na nossa época – brincou Zico, que ao ouvir de funcionários do Maracanã que não poderia pisar na grama, rebateu com bom humor – Se eu e o Bob (Roberto Dinamite) não pudermos pisar, fecha as portas disso daqui! (risos)
Fonte: GloboEsporte.com