O adeus de Juninho Pernambucano do futebol teve clima de emoção desde antes do início da entrevista coletiva, que marcou o último ato do ídolo vascaíno como atleta. Em meio ao atraso quase protocolar do evento, o ex-jogador recebeu carinho de jogadores, da diretoria cruzmaltina e de torcedores mirins que foram à sede do Cruzmaltino. As lágrimas comuns em despedidas rolaram em momento inesperado, não quando ele falava do Vasco – clube com o qual é tão identificado. Juninho não conseguiu esconder a emoção ao lembrar do início da carreira e da relação que tem com o Sport, clube em que se formou como jogador.
Ao contrário da postura de Seedorf, que protagonizou despedida tão significativa quanto a do pernambucano na metade do mês de janeiro, Juninho não fez questão de segurar o choro. O holandês se despediu do Botafogo para se tornar técnico do Milan e teve discurso firme, pontuado pelo famoso sorriso. O craque só desabou na intimidade, quando chorou ao reencontrar os ex-companheiros de time, em Saquarema.
Juninho teve tempo de se imaginar como aposentado e se preparou para encarar os jornalistas, que se acotovelaram em um salão de São Januário, em homenagem a Chico Anysio. Fez discurso inicial com tranquilidade, mas foi só lembrar dos tempos difíceis em Pernambuco e da relação tensa com a torcida que deixou para trás ao aceitar o desafio de jogar no Vasco para abandonar a fala ensaiada para os jornalistas.
O ambiente de Juninho com os torcedores sempre foi conflituoso. O problema ficou mais grave durante jogo pelo Brasileirão-2012, quando o atleta marcou pelo Vasco em jogo contra o Sport e viu a sua família ser hostilizada na Ilha do Retiro. “A decepção maior foi pelo tratamento dado aos meus familiares. Nunca faria isso com ninguém. Tenho educação e nunca recebi um telefonema deles. Mas não guardo mágoa, porque foi lá onde tudo começou. Minha família foi ao jogo com a camisa do Sport e isso aconteceu”, lembrou Juninho.
Cercado por dirigentes do Vasco, o ídolo mostrou também gratidão ao Gigante da Colina. Juninho disse ter se realizado no clube e negou mancha no currículo pelo fato de seu último jogo ter sido marcado pela lesão e sua última temporada ter terminado com rebaixamento.
“A vida é assim, a gente não a controla. Se meu último jogo eu saí com lesão, não posso lamentar. Quando olho para trás, é para aprender. Não imaginava tantos títulos, ter marcado uma história aqui, no Lyon. Prefiro olhar o que foi conquistado. Poderia ter forçado uma situação, ter entrado no fim do jogo com o Botafogo, falar que ganhei e parei de jogar”, ressaltou.
A coletiva feita uma semana depois do anúncio de Juninho à diretoria de que iria parar de jogar futebol profissionalmente deu tempo maior para que o Vasco pudesse se preparar. Muito identificado, o ex-jogador foi homenageado com título de sócio-proprietário do Cruzmaltino. Também foi cercado de abraços e beijos, com sorrisos para todos os lados. Ao deixar a coletiva, porém, ele deixou novamente um clima de tristeza no ar, como quem deixa um espaço vazio que será difícil para outro ocupar.
Fonte: Uol