Em sua primeira entrevista desde o rebaixamento do Vasco, o meia Juninho Pernambucano revelou nesta quarta-feira, em Pinheiral, que ainda pode parar de jogar futebol. Segundo o ídolo vascaíno, ele só disputará o Campeonato Carioca pelo clube se alcançar uma boa condição física depois da pré-temporada e do planejamento preparado especialmente para ele voltar aos gramados. Além disso, o meia revelou ser contra qualquer tentativa de virada de mesa. Para ele, o Vasco deve jogar a Série B este ano.
Depois dos primeiros treinos ao lado dos companheiros, Juninho avisou que ainda não sabe se estará pronto para ajudar a equipe ao longo do Campeonato Carioca. Recuperado de uma grave lesão, o camisa 8 vem treinando separado do grupo e já participou de um coletivo com o elenco. Mas contou que ainda não tem presença garantida no Estadual.
– Eu tinha decidido parar. Não tinha 100% de certeza, mas era a tendência. Rodrigo (Caetano) e Roberto (Dinamite) me ligaram, e o argumento deles era que eu deveria tentar voltar a jogar no Carioca para não terminar minha carreira como a imagem daquela lesão. Aceitei fazer a pré-temporada, mas estou atrás do grupo mesmo tendo feito um coletivo esta semana. Daqui a um tempo, se eu não conseguir ficar à disposição do Adilson, eu paro. No futebol de hoje não dá mais para jogar com nome. Está sendo difícil essa pré-temporada. Se eu aceitei vir, é para tentar fazer uma boa preparação, seguir o planejamento para ter condições de voltar a jogar e ajudar o Vasco. Mas sempre sabendo que o acordo é que, se eu não conseguir, o clube iria entender e eu iria parar – explicou o jogador que completa 39 anos no final de janeiro e ainda vai assinar contrato com o clube.
Juninho não entra em campo desde o empate entre Vasco e Santos, no dia 10 de novembro, quando machucou a coxa direita logo no início da partida. Assim, ele ficou fora das últimas cinco rodadas do Brasileirão. Na entrevista concedida nesta quarta, em Pinheiral, o meia, apesar do tom cauteloso, afirmou que existe a hipótese pequena de jogar até o Brasileirão, se conseguir jogar bem no Carioca – inicialmente, ele renovou contrato apenas até maio.
– Tudo muda muito rápido. Meus últimos contratos foram assim, de seis meses, e depois faço um balanço para ver se continuaria. Mas é difícil prometer isso, não sei nem se vou jogar bem o Carioca. Se pudesse, queria jogar a vida inteira, mas não quero entrar para não ter condição de render. Você tem que estar preparado para jogar. Se não tiver condição de correr, lutar, você vai acabar prejudicando a equipe. Mas a tendência maior é que, mesmo conseguindo voltar bem, eu me aposente no fim do Carioca – afirmou.
Contra a virada de mesa
Fora de campo, a diretoria do Vasco luta para obter os pontos do jogo da última rodada do Brasileirão, contra o Atlético-PR, em razão da falta de segurança na Arena Joinville, e permanecer na Primeira Divisão. Seja através de um novo entendimento nos tribunais ou, após todo imbróglio judicial que também envolve Flamengo, Fluminense e Portuguesa, de a CBF, sem saída, decidir organizar um Campeonato Brasileiro com 24 clubes. No entanto, Juninho revela ser contrário à iniciativa e afirma que a equipe cruz-maltina deve jogar a Série B este ano.
– Sou a favor de 20 equipes na Primeira Divisão, sou contra a virada de mesa. Entendo meu torcedor, pode não aceitar o que estou dizendo. Não acho que uma equipe como a Portuguesa, que lutou para ficar na Série A durante todo o campeonato, possa cometer um suicídio na última rodada, com um jogador que atue poucos minutos em um jogo que não valia nada e, assim, o time perca quatro pontos, acabando rebaixado. Futebol tem que ser resolvido no campo. Acabamos em 18º lugar, lamentavelmente fiz parte desse grupo, tenho culpa. Mas é mais honroso jogar a Série B, ficar entre os primeiros e voltar à elite. Toda essa situação expõe o futebol brasileiro seis meses antes da Copa, recebemos críticas de todo mundo – frisou.
Abaixo, confira todos os tópicos da entrevista do Reizinho:
ESTREIA
Espero seguir treinando e poder fazer outras atividades como o coletivo que participei. Mas dizer o dia que eu estarei à disposição é complicado. Os jogadores que não estão atuando devem ter alguns amistosos e isso pode me ajudar. Mas depende da evolução no dia a dia. O grupo foi todo mudado, é uma nova página, uma nova etapa. Estamos com jogadores jovens e a primeira etapa é o Carioca, depois a Série B. Além de ser difícil dizer quando vou voltar, não pega bem em relação ao grupo. Se eu tiver condições, espero ficar à disposição para jogar o máximo de tempo possível.
DESAFIO
Tem a situação de não querer parar. Você fica na dúvida, pensa que ainda dá para jogar, faz testes e mostra que tem condições. Mas no dia a dia é mais difícil. Aceitei os argumentos da diretoria de não querer me aposentar como uma lesão. Agora estou tentando recuperar a forma física. Hoje o Vasco já tem um time definido para o início do Carioca e não tenho a obrigação de estar logo à disposição. O Adilson também aceito a programação especial que estou fazendo. Não preciso nem falar do meu carinho pelo Vasco. Se não fosse assim, eu já poderia ter trocado de clube há tempos. Sei também que se não der para jogar, seja semana que vem ou daqui a um mês, vou falar para vocês (jornalistas): “Não dá”. Ai eu paro e sigo minha vida. Hoje ainda estou atrás do grupo. Perdi força nesse período parado. Quando se chega na minha idade é mais complicado recuperar. O fim do Campeonato Brasileiro já foi difícil. A tendência maior é que, mesmo conseguindo voltar bem, eu me aposente no fim do Carioca.
NOVO ELENCO
Não posso dizer que é mais forte porque não seria justo com os que saíram. Quando temos uma temporada ruim como a de 2013, é normal que a comissão opte por mudanças. Alguns companheiros saíram, outros foram afastados. Sempre vou lamentar, não é o ideal. Torço para que todos sigam jogando profissionalmente. Ao mesmo tempo alguns reforços chegaram, outros voltaram depois de empréstimos. André Rocha e Marlon, por exemplo, tem experiência na Série B. Isso dá uma bagagem ao time. Foi uma opção do clube diminuir a idade do grupo. Agora é fazer com que esse novo time ganhe sua cara rapidamente. Foi dada também a oportunidade à preparação física da casa com o Daniel e o Rodney, que vinham merecendo. É a necessidade do clube que não tem condições de fazer grandes contratações. É a nossa realidade. Enxugaram a folha para fazer um time competitivo e a esperança é já ter condições de vencer o Carioca.
REBAIXAMENTO
No fundo eu mantinha a esperança. Pela minha experiência, sentia que era uma situação muito difícil. Mesmo que ainda dependêssemos de nós mesmos no último jogo. Sabíamos que não estávamos passando muita confiança ao nosso torcedor. Tomamos muitos gols e não conseguimos um equilíbrio. O time começava sempre atrás. Fizemos um jogo excelente contra o Cruzeiro e deu aquela expectativa, mas aquela rodada mesmo foi muito ruim. Para piorar, o Atlético-PR perdeu a Copa do Brasil e precisava da vitória no último jogo. Eu sentia que era difícil e ficava sofrendo fora do time. Mas agora é bola para frente.
AUSÊNCIA APÓS LESÃO
Não achava que não tinha alguma coisa pra colaborar no dia a dia. Acho que não seria uma posição relevante estar no vestiário. Até porque eu não sabia se continuaria a jogar. Muita gente vai ao vestiário e não soma nada. Eu mantinha contato com os jogadores, era um momento de total emergência para salvar o clube (…) Foi uma escolha, nada pensado. Me lesionei e decidi viajar cinco dias para visitar minha filha. Na minha opinião, nada que prejudicou ou fez o Vasco deixar de vencer por isso. Acho injusto analisar um resultado por causa da minha presença.
JOINVILLE
Eu teria voltado a jogar porque não sou eu que decido. Mas não sei como reagiria àquela situação. É muito difícil dizer algo que eu não passei. Talvez tivesse sim dado alguma opinião. De repente, os jogadores nem perceberam que passou uma hora, que a lei já estava a favor do Vasco. Mas não sei se o resultado seria diferente se eu estivesse em campo, por exemplo. Acredito que se a maioria voltasse, eu voltaria também. A verdade é que tudo aconteceu porque não havia o policiamento necessário.
STJD
Sou a favor de uma investigação sobre toda essa confusão no fim do campeonato. Sou a favor de que quando a suspensão não é automática, a punição só deveria valer a partir do primeiro dia último depois do julgamento. É assim na Europa. Foi julgado na quinta, cumpre na segunda-feira. Evitaria confusão. Não quero ficar criticando o STJD sobre isso, mas sou contra a exposição do Tribunal. Os procuradores dão entrevistas toda semana. O futebol precisa ser resolvido no campo. Respeito o direito de cada um. Não conheço de leis, e sim de futebol. Aliás, muito mais do que muita gente do STJD. Recentemente me pediram dois anos de suspensão porque fui ao vestiário após o jogo e não recolhi a urina imediatamente. E olha que sequer testei positivo no exame. Esse excesso de exposição é ruim. O STJD tem de fazer o trabalho dele, mas o futebol se resolve em campo. Também sou contra essa enxurrada de ações na Justiça comum. Todo dia tem algo do STJD no jornal. Isso acabou criando uma certa raiva nas pessoas. A Justiça comum tem outras preocupações e o ideal era que não acontecesse isso.
BOM SENSO FC
A verdade é que a CBF não recebeu o movimento como deveria, não o respeitou como deveria. Vimos que temos a melhor seleção do mundo e a CBF não consegue fazer do nosso campeonato um dos melhores do mundo. O campeonato é ruim há anos. O principal destaque dos últimos anos, além do Neymar, foi o STJD. A qualidade do futebol caiu muito e a intenção do Bom Senso é mostrar isso. Se continuarmos jogando a cada três dias e os clubes não cumprirem suas obrigações, a tendência é que o nosso futebol não evolua (…) Estou no final da carreira e não posso assumir tantas coisas, mas o movimento está se preparando bem. Se a CBF não ouvir o Bom Senso o campeonato vai ser paralisado. Não agora no Estadual, porque assim prejudicaríamos os jogadores dos times pequenos que mais precisam, mas no Brasileiro a intenção é essa.
PARALISAÇÃO
Já existe uma mobilização do Bom Senso para isso. A tendência é que o Campeonato Brasileiro seja paralisado e não mais tenha protestos antes dos jogos. Isso se as reivindicações de forma geral não forem respeitadas a parti
r do ano que vem. Sabemos que é complicado mexer nas coisas em ano de Copa do Mundo, mas não vamos mais aceitar uma pré-temporada de dez dias. Somos cobrados em caso de derrota do mesmo jeito. Acredito ainda que o Bom Senso vai passar para a imprensa a situação financeira de todos os clubes. Hoje o jogador não recebe e ainda está errado se fala sobre isso. Seja direito de imagem, premiação, contrato… Já havia risco de paralisação no ano passado, mas a parte que participa mais ativamente foi contra pelos ingressos que já haviam sido vendidos antecipadamente. Talvez valha a pena inverter o calendário, começando pelo Brasileiro e terminando com o Estadual. Não sou contra os regionais, quero apenas que o atleta tenha melhores condições de trabalho.
COMPROMETIMENTO
Não vou falar de cada jogador. Quando se termina em 18º, muita coisa ruim aconteceu. Mas acho injusto se culpar alguns. Todos nós jogamos mal. Independentemente se alguns estavam mais comprometidos do que os outros, não acho que tenho o direito de comentar sobre isso.
ELEIÇÃO
Não vou me envolver politicamente nessas eleições. Não tenho essa intenção, mas também não posso dizer que nunca vai acontecer. Acho que tudo o que acontece na parte política precisa ficar fora do vestiário. O Rodrigo Caetano sabe disso e precisa estar preparado. Espero que realmente as pessoas que queriam entrar no Vasco pensem no clube como elas dizem que sempre pensam. O clube tem uma dívida impressionante e milhares de pessoas querem comandar o clube mesmo assim. Isso, na minha opinião, não deixa de levantar suspeitas. Espero que o sócio de verdade defina a eleição. Se ela for feita de forma correta, com uma contagem legítima de votos, ninguém vai poder contestar.
Fonte: GloboEsporte.com