Nascido e criado na Ladeira dos Tabajaras, comunidade no bairro carioca de Copacabana, Rafael Bokinha sempre fez da praia o seu habitat natural. Desde cedo, gostava de surfar e jogar bola com os amigos na beira do mar. Após dar os primeiros passos nas areias, resolveu se arriscar nos gramados em busca do sonho de ser jogador de futebol. Passou pelas categorias de base do Fluminense, em Xerém, mas trocou o Tricolor por clubes como o Ceres, criado por marinheiros em Bangu, e o Angra dos Reis. A falta de oportunidades e o futuro incerto fizeram o jogador desistir de seguir a carreira no campo, mas o destino lhe reservou uma surpresa. Convidado para reforçar o elenco do Vasco no futebol de areia há um ano, ele não pensou duas vezes. Aceitou o desafio e já vem colhendo os frutos do sucesso.
Destaque da nova geração, o atacante, que completou 23 anos na última segunda-feira, foi eleito o melhor jogador da Copa América. Foi também o artilheiro do torneio, com seis gols. Na ocasião, o Brasil manteve a escrita ao garantir o 10º título invicto, depois de golear a Argentina por 10 a 1. A seleção mostrou velocidade, marcação e recuperou o poder ofensivo, sua marca registrada.
– Ninguém estava acreditando em mim no futebol. Muitos técnicos ficam receosos de colocar os jovens para jogar. Foi aí que o Júnior Negão (técnico da seleção brasileira), que tem um projeto no Vasco, me chamou. Não tive muita dificuldade de me adaptar porque eu jogo futebol de areia desde os sete anos, e as coisas estão dando certo. Os amigos me deram dicas também, foram mostrando o certo e o errado, como tocar a bola no alto… Eu nunca deixei de acreditar em mim, fiquei quietinho na minha, acreditando que chegaria a minha vez. Não imaginava que seria artilheiro e melhor jogador da Copa América, foi um grande presente de aniversário – contou o carioca, que vai comemorar “com um bolinho” ao lado da família.
Em uma temporada, Bokinha já coleciona conquistas importantes. Além de vencer a primeira etapa do Circuito Brasileiro pelo time cruz-maltino, o atacante sagrou-se campeão italiano pelo Milano e vice na Rússia, defendendo as cores do Joke, todos na companhia de Catarino, outro atleta revelado pelo Vasco, celeiro da modalidade. Um dos momentos mais marcantes de sua breve carreira foi quando ouviu os torcedores gritarem o seu nome na Arena Manaus, o Coliseu do Norte, na disputa da Copa Brasil. A cena se repetiu na Copa América, na praia de Boa Viagem, em Recife, quando foi ovacionado após uma atuação impecável.
– Ouvir a torcida do Vasco gritando o meu nome pela primeira vez, em Manaus, foi uma sensação inexplicável. E a torcida também gritou o meu nome em Recife. O público lotou a arena todos os dias da Copa América. Representar o seu povo, ouvir o hino do seu país e ver aquela arquibancada torcendo me emocionou muito. Vale todo o esforço, vale tudo. O Brasil teve um desempenho maravilhoso e Deus nos abençoou. Fizemos o nosso trabalho, e o grupo me deu força para mostrar o meu futebol. Eu tinha sido cortado da Copa das Nações, no fim de dezembro, e fiquei muito feliz por ter ficado entre os 12 e ajudado a equipe.
‘Missão não está cumprida’, diz Bokinha sobre renovação
Aos 23 anos, o atacante da terceira geração do futebol de areia vê com bons olhos o processo de renovação do Brasil, berço do esporte. Na “época de ouro” dos anos 90, craques dos gramados como Zico, Júnior e Edinho dominavam o mundo nas areias. Nos últimos tempos, o time verde e amarelo perdeu a sua hegemonia para a Rússia e deixou de ser o mais temido. Medalhista de prata na Copa do Mundo da Itália, em, 2011, e bronze no Taiti, em 2013, a equipe canarinho precisou reencontrar o bom futebol e criar uma nova identidade. Bokinha sabe que caminho será longo, mas acredita que a renovação tem surtido efeito.
– A missão não está cumprida. É um processo, mas estamos no caminho certo. Este é apenas o início de um trabalho de renovação, mas, precisamos de uma melhor estrutura de treino para fazer uma boa preparação para os torneios, de três a quatro meses. O meu maior sonho é ver o Brasil no lugar onde ele merece estar, no topo. Precisamos retomar o título de campeão do mundo, que está com a Rússia, na Copa do Mundo de 2015. Estamos no caminho certo, com o Júnior Negão no comando. O Brasil está criando uma nova identidade, um outro jeito de jogar, com ritmo de jogo diferente, atacando, marcando e usando a força do grupo – finalizou o jogador.
Fonte: GloboEsporte.com